Título: Real forte faz cair o lucro da Eletrobrás
Autor: Alaor Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Economia & Negócios, p. B8

Problema é que a estatal tem recebíveis em dólar

O lucro líquido da Eletrobrás diminuiu 24,6% no ano passado, na comparação com 2004, de R$ 1,293 bilhão para R$ 975 milhões. A receita líquida cresceu 2,4%, para R$ 20,409 bilhões. Uma das explicações para a piora no resultado líquido foi a valorização do real.

A Eletrobrás sofre com a valorização do câmbio porque tem recebíveis vinculados ao dólar. Segundo a direção da empresa, nos 12 meses de 2005 a Eletrobrás teve perda de R$ 2,455 bilhões referentes aos efeitos da variação cambial, ante perda de R$ 1,655 bilhão em 2004.

A geração de caixa, medida pelo Ebitda ( lucros antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações), somou R$ 7,229 bilhões em 2005, com queda de 15,5% ante o ano anterior e ficou ligeiramente abaixo da média das estimativas.

Apesar das perdas com o dólar, a empresa foi favorecida pelo aumento das vendas de energia e pela conversão do empréstimo compulsório em ações preferenciais, no valor de R$ 3,6 bilhões, com redução no endividamento da holding e um ganho financeiro de R$ 200 milhões relativo aos juros anuais de 6% que deixaram de ser pagos.

Os investimentos do grupo somaram R$ 3,5 bilhões, um aumento de 25% em relação a 2004. Furnas foi a subsidiária que mais investiu (R$ 1,128 bilhão), seguida de Eletronorte (R$ 969 milhões) e Chesf (R$ 612 milhões).

A Chesf manteve a posição de mais rentável entre as subsidiárias do grupo estatal, responsável por cerca de 70% de toda energia elétrica gerada no País. Foi o terceiro ano consecutivo em que a subsidiária nordestina gerou mais caixa que Furnas, considerada a "jóia da coroa" do Sistema Eletrobrás. A Eletronorte e a Eletronuclear também tiveram boa recuperação.

Além dos investimentos diretos, o grupo aplicou mais R$ 720 milhões por meio das distribuidoras "federalizadas", ou seja, as distribuidoras que não foram privatizadas e continuam sendo administradas pela Eletrobrás. Essas empresas, pela primeira vez em cinco anos, deixaram de sangrar os cofres da estatal, gerando um caixa positivo (Ebitda) em torno de R$ 71 milhões.

A empresa que mais contribuiu positivamente foi a Manaus Energia, com caixa positivo de R$ 84,8 milhões. As outras que deram resultados positivos foram as distribuidoras de Alagoas e do Acre.

A expectativa por esse bom resultado levou as ações da Eletrobrás a permanecer em alta o dia todo. As ações ordinárias (ON) subiram 4,44%, enquanto as preferenciais avançaram 3,35%. A empresa anunciou um dividendo para os acionistas no valor de R$ 442,117 milhões.

Boa parte dessa recuperação nos últimos três meses de 2005 deveu-se ao ganho obtido pela Eletrobrás por suas participações societárias em diversas empresas do setor elétrico. Essas participações renderam um lucro de R$ 2,387 bilhões.