Título: TVs apóiam o padrão japonês
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Economia & Negócios, p. B8

'Sistema é o único capaz de manter a qualidade necessária'

As emissoras querem o padrão japonês agora. "O sistema é o único capaz de manter a qualidade necessária", disse Alexandre Raposo, presidente da Record. "Não é só para beneficiar as redes." Segundo ele, o sistema europeu não tem condições técnicas para cobrir o País adequadamente, e acabaria incentivando a migração para serviços pagos. Uma campanha conjunta das redes tem como slogan "Televisão Digital - 100% Brasil. 100% grátis".

As emissoras resolveram publicar hoje um comunicado conjunto, assinado por Bandeirantes, Cultura, Globo, Record, RedeTV, Rede Vida, SBT, 21, CNT e Rede Mulher. Eles querem, especificamente, a modulação do ISDB-T japonês. Ou seja, o sistema de transmissão, associado a "aperfeiçoamentos criados por cientistas nacionais".

A expectativa das redes era que o padrão japonês fosse anunciado pelo governo em 10 de março, quando ministros encaminharam ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um relatório favorável a ele. O governo negocia com europeus e japoneses a instalação de uma fábrica de semicondutores no País.

Raposo criticou a possibilidade de multiprogramação, transmissão de vários programas simultâneos em um só canal. "O bolo publicitário não comporta", afirmou o executivo.

LOBBY EUROPEU

Só seis dias de iniciar uma visita oficial ao Brasil, o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, não emitiu nenhum sinal em favor da contrapartida exigida pelo governo para a adoção do padrão europeu de TV Digital - o investimento empresarial na instalação de uma fábrica de semicondutores.

Durante teleconferência com jornalistas brasileiros, argentinos e chilenos, Mandelson repetiu que o Brasil será condenado ao "isolamento internacional" se não optar pelo padrão europeu e respondeu com irritação a duas questões sobre o canal de financiamento de uma eventual fábrica e o prazo de execução do projeto.

"Se o Brasil der as costas (ao sistema europeu) e buscar outra alternativa, estará condenado ao isolamento internacional em termos de padrão e de parceria tecnológica", declarou Mandelson.

"Sou comissário de Comércio e não o presidente de uma companhia privada. Pergunte às companhias e não à Comissão Européia", retrucou, diante da insistência dos jornalistas brasileiros sobre a fábrica.