Título: Para FHC, eleitor ainda não ligou corrupção a Lula
Autor: Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2006, Nacional, p. A9

A população brasileira ainda não fez a ligação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a crise enfrentada pelo governo há quase um ano. É isso o que justifica, afirmou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os índices positivos obtidos por Lula no levantamento realizado pelo instituto Datafolha e divulgado no fim de semana. "É como se ele não fosse presidente do Brasil", disse o ex-presidente.

Mas ele advertiu que Lula vem registrando queda nas últimas três pesquisas do instituto. Na mais recente, feita entre os dias 6 e 7, o presidente aparece com 40% das intenções de voto e seu governo é ótimo ou bom para 37% dos entrevistados.

Para FHC, a relação entre Lula e as denúncias de corrupção aparecerá em breve nas pesquisas, a depender do discurso da oposição e da própria sociedade. "Você tem que dizer: 'Se o presidente não sabia de nada, não tem a ver com isso, com o que é que ele tem a ver?'", indagou, depois de participar de um seminário sobre telecomunicações no Instituto Fernando Henrique Cardoso. "Como é que você pode governar o Brasil sem prestar atenção nestes fatos?"

Ao ligar as denúncias a Lula, ponderou o ex-presidente, é preciso evitar um discurso que possa transformá-lo em vítima. "Não adianta 'vitimizar' o presidente, isso dá um efeito contrário", anotou.

Questionado se o debate sobre a ética será insuficiente para vencer a eleição, o ex-presidente assegurou que ele já produziu efeitos. "O presidente Lula perdeu grande parte da classe média em função desse discurso", advertiu. E destacou a necessidade de se apontar na campanha os elevados gastos do governo federal, que podem levar a aumento de impostos.

Fernando Henrique ainda acusou o governo de promover o aparelhamento da máquina pública, o que criou condições favoráveis à corrupção. Para Fernando Henrique, a principal novidade da última pesquisa foi o crescimento do candidato do PMDB, Anthony Garotinho. "Você pode dizer que é porque ele teve presença na televisão, mas isso mostra que ele é um candidato competitivo". Já o desempenho do tucano Geraldo Alckmin mostra uma acomodação "esperada", observou ele.

Ontem, Garotinho voltou afirmou que a melhora da sua avaliação na pesquisa eleitoral do Datafolha foi fruto de sua maior exposição, graças aos programas eleitorais do PMDB. "Inegavelmente, a propaganda partidária veiculada no período da pesquisa ajudou".

Ele voltou a criticar os governistas do PMDB, que ele chamou de "incoerentes", e reafirmou a certeza na vitória da sua pré-candidatura. "O PMDB tem que decidir se quer ser um partido de capitanias hereditárias ou um projeto nacional. Creio que a maioria do PMDB quer a candidatura própria", afirmou.