Título: Assentados fecham estrada em Pernambuco
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2006, Nacional, p. A10

Integrantes de assentamentos e acampamentos ligados ao Movimento dos Sem-Terra (MST), na região agreste de Pernambuco, bloquearam ontem pela manhã, por cerca de quatro horas, a BR-232 no Km 76, no município de Gravatá.

A interdição provocou engarrafamento de três quilômetros no sentido Recife/interior, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). "Chegamos ao limite", justificou o coordenador regional do MST, Ezequias da Silva. "Os dez assentamentos localizados nesta região enfrentam vários problemas, as famílias estão jogadas."

De acordo com Ezequias, os assentados da área vivem como se fossem acampados à espera do seu pedaço de chão. "Deram a terra, mas não as condições para produzir e subsistir", observou. "Reforma agrária não é dar uma área e abandonar os agricultores." Ele exemplificou com o Assentamento Várzea Grande, em Gravatá, que há sete anos não recebe nenhum tipo de assistência, seja na área técnica ou em investimentos. "A obrigação do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) é participar da vida do assentamento."

Os manifestantes encerraram o bloqueio ao meio-dia, depois da promessa de uma reunião, no dia 25, com o Incra, o Banco do Nordeste e o Ministério Público Estadual. "Queremos resolver nossas dificuldades, não agüentamos mais promessas", disse Ezequias.

Com a mobilização de ontem, o MST buscou também estimular os assentados a continuar lutando para viver da terra. Ezequias garantiu que nos períodos sem chuva os assentados também passam fome. Isso acontece, segundo ele, em assentamentos como Perseverança e Nossa Senhora das Graças, também em Gravatá, e o Condic, na cidade vizinha de Passira.

O protesto, que contou ainda com representantes de nove acampamentos da área, visou, ainda, a pressionar o governo federal a agilizar vistorias e desapropriações.

Desde o início de março, o MST realizou 28 invasões de terras em Pernambuco, envolvendo, de acordo com a assessoria do movimento, 4 mil sem-terra. Neste período também foram feitas outras mobilizações, como o protesto de camponesas contra produtos transgênicos em frente à sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Recife, e ato contra o agronegócio na Fazenda Avestruz Master, em Vitória de Santo Antão, na zona da mata.

O 2006 vermelho anunciado em março pelo líder estadual do MST, Jaime Amorim, com ações em todo o País, deve registrar novas mobilizações em Pernambuco até o dia 17, aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás, quando 19 agricultores foram executados no Pará.