Título: Prodi, o perfeito anti-Berlusconi
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2006, Internacional, p. A11

A vitória de Romano Prodi não é a de um homem carismático ou de um político habilidoso que cometeu poucos erros no passado. Sua passagem pelo governo italiano entre 1996 e 1998 não chegou a ser brilhante. Mas ele colocou a Itália, graças a uma política econômica de austeridade, numa posição favorável para enfrentar a reforma monetária da União Européia que instituiu o euro. Também não chegou a fazer uma administração notável como presidente da Comissão Européia (órgão executivo da UE ) , entre 1999 e 2005.

Na véspera da eleição, não havia grande entusiasmo entre os parceiros europeus da Itália com uma eventual vitória de Prodi no pleito. Mas era clara a preferência dos europeus por ele na disputa com Silvio Berlusconi.

O jornal francês Le Monde, por exemplo, chegou a publicar um artigo intitulado "Bruxelas critica Prodi, mas o prefere a Berlusconi". O diário lembra que o mandato dele de cinco anos na presidência da Comissão Européia terminou em desilusão. Prodi não correspondeu à forte esperança depositada nele.

Mas uma coisa ninguém nega: o professor Prodi leva a marca da honestidade, seriedade e serenidade. Isso ficou demonstrado na recente campanha eleitoral italiana, quando ele enfrentou um adversário duro e desleal. Prodi soube também formar uma coalizão com forças políticas heterogêneas - centristas, socialistas, comunistas e verdes.

Por enquanto, o desejo de governar deve deixar para um segundo plano as diferenças ideológicas existentes na coalizão de centro-esquerda. Para contornar o problema, Prodi usou de rara diplomacia. Obteve a aprovação geral de um programa de governo de 400 páginas.

No plano interno, ele vai procurar modernizar a economia italiana, a luta contra a evasão fiscal, a recuperação da imagem do país no exterior, arranhada por seu antecessor. No plano externo, deverá adotar uma política pragmática, incluindo as relações com a América Latina e o Brasil. Mas suas prioridades, evidentemente, estão voltadas para melhorar a posição da Itália na União Européia.