Título: TJLP deve caminhar para 7%, diz Mantega
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Presidente do BNDES vê possibilidade de novos cortes na taxa de juro de longo prazo

BRASÍLIA

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, defendeu ontem novos cortes na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). "Podemos caminhar em direção a 7%, que estamos bem", comentou. Atualmente, está em 9% ao ano.

"Todos sabemos que a mola mestra do crescimento é o investimento", disse Mantega, ao participar do seminário "Agenda Nacional de Desenvolvimento", promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Um dos aspectos fundamentais para que o investimento cresça, insistiu ele, é a queda no custo do financiamento. Isso seria possível com a continuidade nos cortes da TJLP, a taxa que remunera os empréstimos do BNDES ao setor produtivo. Segundo Mantega, o banco já contribuiu para baratear suas linhas de financiamento ao reduzir os spreads (a diferença entre o custo de captação do banco e aquilo que ele cobra do cliente).

O novo nível da TJLP é o principal item da pauta da próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Originalmente marcada para hoje, a reunião foi adiada para o dia 30. Segundo o Banco Central, discussões técnicas de alguns assuntos não foram concluídas a tempo.

O nível da TJLP já provocou embates entre Mantega e o secretário do Tesouro, Joaquim Levy. O presidente do BNDES quer a taxa mais baixa para baratear empréstimos para o setor privado investir na produção. O secretário do Tesouro acha que o nível da TJLP no curto prazo não influencia o nível de investimento, pois o empresário toma essas decisões olhando as perspectivas da economia no longo prazo. Levy provocou forte reação de Mantega meses atrás, ao afirmar que a TJLP deveria oscilar junto com a Selic (atualmente em 16,5% ao ano).

HÁ ESPAÇO

Analistas de mercado ouvidos pela Agência Estado concordam com Mantega que a TJLP poderia cair dos atuais 9% para 7% ao ano. "Com o risco Brasil em torno dos 230 pontos e a projeção de inflação em cerca de 4,5%, haveria espaço para a taxa recuar para a casa dos 7%", disse um analista.

Por outro lado, o mercado dá razão a Levy quando questiona o subsídio aos empresários nas operações de empréstimos do BNDES. "O Tesouro vem conseguindo tomar emprestado do mercado pagando 9% ao ano, mais a variação do IPCA em operações de 5 anos (prazo semelhante ao das operações do BNDES)", disse outro analista.

Se a TJLP cair muito, haverá um diferencial de taxas (entre BNDES e Tesouro) que tornará atraentes as operações de arbitragem. "O cliente do BNDES pode pegar o dinheiro emprestado a uma taxa baixa e aplicar os recursos em títulos do Tesouro Nacional, que têm uma rentabilidade muito maior que o custo da operação com o banco oficial", comentou.

O caminho mais correto, na visão de outro analista, seria o governo criar estímulos para que as empresas abrissem capital e se tornassem mais transparentes. "Desta forma, as empresas poderiam até tomar empréstimo no mercado internacional", disse esse analista.

Nas operações de empréstimo externo, as taxas de juros são mais baixas do que as cobradas no mercado financeiro interno. A abertura de capital e a ampliação da transparência também serviriam de incentivo ao mercado de capitais interno.