Título: Varejo busca saídas para fugir do baixo-astral
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Economia & Negócios, p. B1,4

Nas cidades mais atingidas, lojas esticam prazo de pagamento e cortam preço dos produtos

O comércio das cidades do interior, onde a economia está baseada na soja, na pecuária de corte e na avicultura, faz promoções diferenciadas para atenuar os efeitos da crise do agronegócio no caixa das empresas. As saídas encontradas vão desde esticar o prazo de pagamento do crediário até cortar preço dos produtos. Há empresas que já mudaram a rota dos investimentos, com abertura de novas lojas em cidades que não são tão dependentes do agronegócio.

"Paramos a expansão da rede de lojas em Mato Grosso e Rondônia, onde predomina a soja e a pecuária, e vamos abrir 12 lojas em Belém (PA) e duas em Tocantins", afirma Erivelto Gasques, diretor-presidente da Citylar, rede especializada em móveis e eletrodomésticos, com forte presença no Centro-Oeste e Norte do País.

Na sua opinião, não adianta aumentar os prazos de pagamento e ampliar o risco de inadimplência, que já é mais elevado nessas regiões, para atenuar os efeitos da crise do campo no comércio local. Ele conta, por exemplo, que a inadimplência da sua clientela em municípios essencialmente agrícolas, como Sinop e Sorriso (MT) cresceu 6% nos últimos 12 meses, o dobro do acréscimo verificado na média das 100 lojas da rede, que foi de 3%.

Já as Lojas Colombo, com 354 pontos-de-venda espalhados entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, decidiram ter mais agressividade nas unidades localizadas no norte do Paraná, onde os negócios não estão bem por causa da baixa rentabilidade da soja.

O diretor de Vendas da rede, Arnildo Heimerdinger, diz que, neste mês, o faturamento das unidades nessa região cresceu 10% ante o mesmo período do ano passado, mas está aquém da média de 25% projetada para a empresa como um todo.

Diante desse descompasso, a rede alongou de 15 para 24 meses o prazo máximo do crediário. "Existe o risco de inadimplência, mas cobramos taxas maiores para os prazos mais longos", afirma o executivo. Em 15 vezes, a taxa mensal era de 5,9%. Em 24 prestações, os encargos subiram para 6,9% ao mês. Ele conta que a rede decidiu intensificar as campanhas de TV nas regiões afetadas pela crise do agronegócio e fazer promoções específicas de redução de preço.

Essa também foi a alternativa encontrada pelos supermercados para rebater as vendas fracas. "Estamos negociando com as indústrias o corte de preços porque os supermercados não têm mais como reduzir as margens", afirma Mario Braz Pinto, vice-presidente da Associação Paranaense de Supermercados, responsável pela região de Ponta Grossa (PR).

Na Toycar, concessionária Toyota em Ponta Grossa, os preços dos veículos encolheram 10% este mês por causa das vendas fracas. A revenda também decidiu reduzir os juros dos financiamentos somente esta semana, de 1,8% para 0,49% ao mês.