Título: Petrobrás cobrirá gasto da redução do gás
Autor: Leonardo Goy e Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

A Petrobrás vai assumir sozinha os efeitos da redução no suprimento de gás da Bolívia, afirmou ontem o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. Ele disse que ainda não há como avaliar o prejuízo para as refinarias da empresa, que estão sendo obrigadas a substituir 2,5 milhões de m3 de gás por dia por outro combustível. A conta só será fechada ao final do período de contingenciamento que, segundo ele, "será bem menor que os 30 dias previstos inicialmente".

"Não há racionamento, mas um plano de contingenciamento", afirmou Gabrielli. Por esta estratégia, outros 2,5 milhões de m3 deixaram de ser enviados diariamente às usinas térmicas da Petrobrás. O diretor de Gás e Energia da estatal, Ildo Sauer, diz, no entanto, que o impacto é nulo, porque praticamente todos os reservatórios das usinas hidrelétricas do País estão cheios, o que torna desnecessária a utilização das térmicas.

Sauer, que esteve na Bolívia na semana passada, disse que a situação já está sob controle. "O acidente não foi tão sério", avaliou. Ele lembrou que alternativas, como a contratação emergencial de gás natural liquefeito (GNL), que poderiam chegar ao País em navios gaseiros, chegaram a ser avaliadas, "na eventualidade de um problema mais sério".

A previsão inicial, de que poderia haver uma queda de10 milhões de m3 de gás por dia, no total de 26 milhões transportados atualmente, foi classificada ontem pela direção da estatal como "o pior cenário". Gabrielli não acredita que será necessário elevar o corte de suprimento que já foi feito.

"Com os 21 milhões de m3 que estamos trazendo, não haverá perda para o consumidor", afirmou. Este é uma espécie de patamar-limite com o qual a empresa vem trabalhando. Abaixo deste volume, diz Gabrielli, algumas indústrias poderiam também ser prejudicadas, mas não especificou quais.

Por enquanto, está afastada a hipótese de o consumidor final de gás sentir os efeitos do acidente no território boliviano. A estimativa da estatal é de que o conserto esteja concluído em uma semana.

A enxurrada que danificou cerca de 800 metros da tubulação do gasoduto Bolívia-Brasil não atingiu os dutos de gás. "O duto atingido escoa o líquido (óleo) que vem associado ao gás", disse Sauer. É uma parte importante do processo para manter o mesmo nível de produção e transporte do gás.

NACIONALIZAÇÃO

O presidente da Petrobrás evitou comentar a crise com o governo boliviano acerca do projeto de nacionalização das jazidas de gás, principal projeto político da gestão de Evo Morales. Alegando que o diálogo com representantes da Bolívia foi retomado, Gabrielli afirmou que, enquanto não forem concluídas as negociações, a estatal não comentará as propostas.

Mas ele deixou claro que o reajuste no preço do gás é um fato consumado. "Evidentemente, o preço não está adequado, precisa subir", declarou, sem entrar em detalhes sobre o porcentual de aumento.

Hoje, o gás importado da Bolívia chega ao País por cerca de US$ 5 o milhão do BTUs (unidade britânica de poder calorífero). As estimativas do mercado são de alteração para, pelo menos, US$ 6,50.

Ildo Sauer lembrou que, para atrair mercado consumidor para um volume de gás que já estava contratado e que teria de ser pago ao governo boliviano mesmo que não fosse utilizado, a diretoria da Petrobrás aprovou, em 2003, a estabilidade de preços "indefinidamente".

A estratégia vigorou até setembro do ano passado, quando o gasoduto passou a transportar 24 milhões de m3. "A partir de então, voltou a vigorar a cláusula contratual que previa reajuste a cada três meses", disse o diretor da estatal.