Título: Distribuidoras já fazem plano de contingência
Autor: Leonardo Goy e Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

As distribuidoras de gás canalizado já elaboraram planos de ação caso o racionamento seja confirmado na quinta-feira pelo Ministério de Minas e Energia. A alternativa será contingenciar o fornecimento do combustível apenas para aquelas empresas que tenham plantas bicombustível, ou seja, que funcionam tanto com o gás natural como com outro combustível. Em alguns casos, essas companhias seriam reembolsadas pelo aumento do custo provocado pela mudança. Isso evitaria um transtorno maior se o corte fosse feito de forma linear entre os grandes consumidores. Os residenciais seriam poupados.

No Estado de São Paulo, centro de consumo do País, cerca de 30 clientes passariam a usar, por tempo determinado, outro tipo de combustível no lugar do gás e seriam ressarcidos por isso, disse o presidente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte. Segundo ele, esse foi um acordo entre a Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE) e a concessionária local.

Apesar de não serem afetadas, as empresas do setor de vidro continuam atentas ao desenrolar de todo esse problema provocado pelo rompimento de um duto da Petrobrás na Bolívia. Belmonte afirma que hoje a participação do gás na produção da indústria de vidro é de quase 100%. Há quatro anos esse porcentual estava em 50%, mas as empresas foram incentivadas a migrar os sistemas para o gás natural. O problema é que, além de não ter garantia de abastecimento, o preço vai subir, seja pelos problemas na Bolívia ou pelo aumento de rentabilidade das obras, afirmou ele.

Outro Estado que deve optar pela seleção de clientes se houver contingenciamento é a Companhia Paranaense de Gás ( Compagas). Segundo o diretor presidente da concessionária, Luiz Carlos Meinert, três clientes concordaram em substituir o combustível durante o plano de racionamento. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), 74% do gás fornecido pela Compagás vem da Bolívia. O executivo não acredita, porém, que haja necessidade de corte no consumo do combustível.

Na Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás), que distribui o combustível para 115 consumidores, duas empresas seriam afetadas: Copesul e Refap. A primeira, com o corte de excedente contratado junto à Sulgás, de 48 mil metros cúbicos (m3) diários, e a Refap, com a redução para 132 mil m3/dia, ante o total de 240 mil m3/dia contratados.

Além do gás natural boliviano, o Estado recebe o produto da Argentina, que abastece exclusivamente a termelétrica AES Uruguaiana. "A situação será avaliada diariamente, mas, até quinta, não deve haver qualquer corte no volume recebido pela Sulgás", afirmou o secretário de Energia, Minas e Comunicações do Estado, José Carlos Brack. Se for necessário o contingenciamento, o plano prevê, a suspensão de 180 mil m3/dia no Estado.

O coordenador de Gás Natural da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), Luiz Pedro Biazotto, disse que a entidade está preocupada com o contingenciamento. "Uma redução de 12% de gás significa 12% menos de produção."