Título: No Recife, mulher 'de sorte' ganha R$ 45
Autor: Robson Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Nacional, p. A13
Em outro bairro, dona de casa mantém oito crianças com R$ 160 recebidos de dois programas federais
Aos 32 anos de idade, a dona de casa Maria Verônica Gomes mora em um pequeno apartamento doado pela prefeitura do Recife, no bairro do Cordeiro, zona oeste da cidade. Com oito filhos, sua única fonte de renda se resume aos R$ 160 mensais provenientes do Bolsa Família e do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).
Na terça-feira, o dinheiro, recebido no início do mês, já havia acabado. A comida também. Preocupada, Maria Verônica se preparava para iniciar a peregrinação pela vizinhança em busca de um punhado de arroz e feijão para garantir o almoço da família. Até conseguir efetivar a inscrição nos programas sociais, há cinco meses, foram dois anos de tentativas frustradas.
"O dinheiro é pouco, mas, se não fosse isso, não sei o que faria para dar comida aos filhos. Eu e meu marido estamos desempregados. Há quatro meses que ele não arruma nem um bico para ganhar uns trocados", relata.
Maria do Socorro da Silva, de 36 anos, é considerada uma "mulher de sorte" pelas vizinhas. O motivo: ter conseguido, há dois anos, inscrever os três filhos no Bolsa Escola, que paga R$ 15 por criança, desde que freqüente regularmente a escola.
Depois de trabalhar mais de dez anos como doméstica, Socorro está desempregada há três anos. O marido, Ivaldo Bezerra, trabalha como pedreiro em uma construtora. A renda mensal da família, de R$ 380, é complementada com R$ 45 da ajuda federal.
"Tentei por muito tempo conseguir o benefício. Já estava quase sem esperança quando chegou um recado da professora de um dos meus filhos avisando que a gente estava na lista do Bolsa Escola", relatou Socorro, que mora no bairro de Brasília Teimosa, um dos mais carentes do Recife.
"É pouco, mas nunca atrasou. Muitas vezes foi com esse dinheiro que não deixei meus filhos passarem fome", salientou Socorro.