Título: 'Socorro cobre metade do rombo' Lula critica maus pagadores
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

O pacote emergencial anunciado na quinta-feira passada pelo governo federal para socorrer os agricultores cobre metade do rombo que os produtores tiveram nas últimas duas safras, na avaliação do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Seca, câmbio, aumento dos custos de produção e depreciação dos preços internacionais das principais commodities fizeram os produtores acumularem prejuízos de R$ 30 bilhões, segundo estimativa da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).

O principal ponto do pacote é a renegociação das dívidas de investimento e de custeio das lavouras. "Somadas, essas duas dívidas chegam a R$ 17 bilhões, o que tapa metade do buraco da crise que atinge o setor", disse Rodrigues.

O pacote prevê que R$ 7,2 bilhões em dívidas de investimento vencidas ou a vencer em 2006 sejam pagas 12 meses após o vencimento dos contratos, o que depende do período de contratação. Essa decisão precisa ser ratificada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que deve se reunir nos próximos dias.

Outro benefício é a rolagem das dívidas de custeio, o que, segundo o ministro, "é menos fácil". Isso porque essa renegociação será feita pelos bancos após avaliação caso a caso e de acordo com a capacidade de pagamento dos produtores. Mesmo assim, Rodrigues estimou que 25% dos custeios serão prorrogados. No total, foram emprestados R$ 26 bilhões para custear as lavouras.

De acordo com o ministro, o pacote "tira da frente" de R$ 13 bilhões a R$ 14 bilhões em dívidas que não precisarão ser pagas este ano. "De qualquer forma, a gente tira da frente neste ano dificílimo, em que a renda despencou, um valor muito alto", disse Rodrigues em entrevista após participar da abertura da 2ª Conferência Internacional de Rastreabilidade e Produtos Agropecuários, em Brasília.

Mesmo com eventuais problemas para que os produtores renegociem dívidas de custeio, ele avaliou como "muito útil e muito bem-vindo" o pacote, principalmente para os produtores de áreas tradicionais, como o Sul do País. "O pacote não é suficiente para os produtores das fronteiras agrícolas porque lá os problemas são mais candentes, maiores", comentou. Um dos entraves da agricultura nessas regiões é o escoamento da safra.

Para atacar esse tipo de problema, um segundo pacote está sendo avaliado pelo governo. Esse pacote, disse Rodrigues, trará medidas estruturais para o setor e será anunciado dentro de duas ou três semanas. "Faltam medidas estruturais. Outro pacote tratará de questões fiscais, tributárias de importações seguro rural e recursos para o crédito rural", afirmou o ministro.

Mesmo com tantas medidas de ajuda ao setor, o ministro aproveitou o discurso na conferência para fazer um desabafo e criticar indiretamente os Ministérios da Fazenda e dos Transportes. "Não mando no câmbio, não mando nos juros, não mando nos recursos do crédito, não mando em logística ou em estradas, mas a crise senta no meu colo."

Hoje, na sede da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), em São Paulo, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, vai detalhar o pacote anunciado na semana passada, em especial como serão liberados os recursos para comercialização da safra.