Título: Câmara, mais uma vez, absolve deputado acusado por mensalão
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Nacional, p. A8

Wanderval Santos (PL) e João Magno (PT) aumentam para 7 número de deputados que escaparam da cassação

BRASÍLIA - A Câmara absolveu ontem mais dois deputados envolvidos com o mensalão, ambos da base do governo. Agora, da lista inicial de 18 acusados, já são sete os que conseguiram se livrar da cassação. À tarde, quem salvou o pescoço foi o deputado Wanderval Santos (PL-SP), acusado pela CPI dos Correios de receber R$ 150 mil das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza; à noite, foi a vez do petista João Magno (MG), que confessou ter recebido R$ 425,95 mil das contas de Marcos Valério. O baixo quorum foi fundamental para o destino dos dois parlamentares.

À votação do deputado João Magno faltaram 87 dos 513 deputados. Na sessão que decidiu o destino de Wanderval ausentaram-se 69 deputados. Como são necessários 257 votos para a cassação de um mandato, o sumiço dos colegas contribuiu para a salvação dos que ontem foram julgados. PFL e PSDB ainda tentaram uma manobra, mas o resultado foi apenas o atraso na votação. Percebendo que as ausências eram muitas, os dois partidos de oposição fizeram de tudo para adiar a sessão, mas os parlamentares da base aliada do governo garantiram 257 deputados em plenário, o que deu garantiu a votação.

Votaram pela cassação do mandato de João Magno 201 deputados; pela absolvição, 207. Foram registradas ainda 10 abstenções, 5 votos brancos e 3 nulos. Wanderval sofreu com um placar mais apertado. Pela cassação de seu mandato foram registrados 242 votos, 15 a menos do que os 257 necessários para a declaração da perda de mandato. Votaram a favor de Wanderval 179 parlamentares. Foram registradas ainda 20 abstenções e três votos em branco. Quando o resultado foi anunciado, a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) dançou no plenário.

Livraram-se da cassação, até agora, além de João Magno e Wanderval Santos, os deputados Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Sandro Mabel (PL-GO), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Pedro Henry (PP-MT). Foram cassados Roberto Jefferson (PTB-RJ), José Dirceu (PT-SP) e Pedro Corrêa (PP-PE). Renunciaram ao mandato para fugir do processo Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (sem partido-RJ), José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA). A Câmara apreciaria ainda, ontem à noite, o processo contra o deputado João Magno (PT-MG), que confessou ter recebido R$ 425,95 mil das contas de Marcos Valério.

João Magno foi à tribuna e fez um discurso longo, emocional e confuso. Durante os 44 minutos em que se defendeu, culpou os meios de comunicação que, segundo ele, julgam sem esperar a condenação, mas ao mesmo tempo afirmou que eles cumprem o seu papel de informar. Citou Ruy Barbosa, lembrou que pediu socorro ao bispo emérito de Ipatinga (MG), dom Lélis, de 88 anos, que foi à Câmara testemunhar a seu favor e contou que toda a sua família estava presente assistindo-o.

O deputado disse ainda as razões que o levaram a não renunciar ao mandato: "Que moral, que autoridade terei para dar exemplo de um pai, que tem uma cabeça erguida, dentro da consciência e da essência de uma atitude de vida, para ensinar meus filhos a serem homens e mulheres independentes - tenho 1 filha e 3 filhos - , se eu não tiver a dignidade, a moral, a coragem para levar até às últimas conseqüências, explicando, enfrentando e, em muitos momentos, até sendo apedrejado? Eu disse para eles, dentro da minha casa: Filhos, fiquem serenos com o que acontecer, qualquer que seja o acontecimento vocês estão vendo diante de mim um pai".

O deputado Wanderval Santos utilizou duas estratégias para se defender. Em primeiro lugar, imitou o deputado Roberto Brant (PFL-MG), que há 15 dias atacou a opinião pública, chamando-a de "elitista, muito menor do que o povo", e se livrou da cassação, porque provocou o amor-próprio dos parlamentares. Em segundo lugar, ele atribuiu toda a culpa pelo aparecimento de seu nome na lista dos recebedores de dinheiro de Marcos Valério ao ex-deputado Carlos Rodrigues (sem partido-RJ), que renunciou ao mandato para fugir do processo de cassação. Chamou-o de "covarde" por ter fugido do processo. Disse que Rodrigues determinou a seu motorista que fosse ao Banco Rural pegar o dinheiro.

Wanderval lembrou que, respondendo ao senador Romeu Tuma (PFL-SP) na CPI dos Bingos, Rodrigues pediu perdão: 'Pedi perdão ao Wanderval. Eu estou aqui porque o nome do Wanderval - sinto imensamente - foi envolvido injustamente num fato que eu cometi', disse Wanderval, imitando Rodrigues. Depois, de acordo com informação do deputado, Rodrigues ligou e, pessoalmente, pediu perdeu.

"Depois de alguns dias, ele também me ligou me pedindo perdão. Logicamente que como cristão eu deveria perdoá-lo. Mas a verdade é que quem teria que estar aqui nesta tribuna hoje para responder pelos seus atos ilícitos seria o ex-deputado Carlos Rodrigues. Mas a covardia o levou a renunciar, e a covardia não me levou a renunciar, porque estou aqui hoje enfrentando esse processo no lugar do ex-deputado Carlos Rodrigues. E falei mais: sobre o mal que ele causou a mim e também à minha família e aos meus filhos".