Título: Produtividade em queda
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2006, Notas e Informações, p. A3

Quem leu o noticiário recente sobre produtividade industrial pode ter ficado sem entender o que ocorreu em 2005. Estudo divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) conclui que, com relação à produtividade, a indústria brasileira vive um de seus piores momentos em quase quatro décadas. No ano passado, de acordo com a CNI, a produtividade industrial registrou queda de 1,4%, de modo que o resultado acumulado na primeira metade desta década é um aumento de apenas 3,4%, com a média anual de 0,7%. Outro estudo feito também por uma organização empresarial ligada à indústria, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), e divulgado há cerca de duas semanas, chegou a conclusão muito diferente. Para o Iedi, a produtividade industrial cresceu 2,3% no ano passado.

O que explica essa discrepância é a metodologia desses estudos. Ambos calculam a produtividade dividindo a produção pelo número de trabalhadores ou pelo total de horas trabalhadas. Os dados da produção, nos dois estudos, são os apurados pelo IBGE. A diferença está nos dados a respeito do trabalho. A CNI utiliza seus próprios números, apurados mensalmente; o Iedi emprega os do IBGE.

Apesar das diferenças, o que esses estudos mostram é uma notável queda da produtividade industrial entre 2004 e 2005. É um mau sinal, porque, se a queda se repetir nos anos seguintes, haverá perda de competitividade, o que afetará as exportações - e isso será ruim para o Brasil.

A CNI compara os resultados do período 2001-2005 com os da década de 80, conhecida como a "década perdida" por causa do mau desempenho da indústria. Entre 1981 e 1985, a produtividade cresceu à média anual de 3,6%, mas, no período 1986-1990, registrou redução média anual de 0,7% "O baixo crescimento da produtividade (na atual década) tende a reduzir os ganhos de competitividade conquistados com a modernização do parque industrial brasileiro ocorrida nos anos 90", observa o trabalho.

De fato, na década passada, pressionada pela abertura econômica, a indústria colocou em prática um vigoroso programa de modernização de seu parque produtivo e de seus métodos gerenciais, que assegurou ganhos importantes de produtividade, que, em alguns anos, alcançaram quase 12%. Na primeira metade da década passada, o aumento médio anual da produtividade industrial foi de 7,2%, segundo a CNI.

O que explica os resultados medíocres desta década é o fraco desempenho da produção física. Entre 2001 e 2005, ela cresceu à média anual de 2,5%. E essa média foi fortemente influenciada pelo ótimo desempenho de 2004, quando a produção aumentou 8,3%.

A produtividade teria registrado uma evolução ainda mais modesta na primeira metade da década se, em alguns anos, não houvesse redução do emprego ou do número de horas trabalhadas. Em 2005, ao contrário, o número de empregados cresceu mais depressa do que nos anos anteriores, e isso, em boa medida, explica a redução da produtividade.

O aumento do emprego em 2005 é reflexo do bom desempenho de 2004. Aos primeiros sinais de crescimento, as empresas utilizam mais intensamente o pessoal ocupado, com o aumento das horas extras. Só quando estão confiantes na expansão da produção elas começam a contratar. É por isso que a reação do mercado de trabalho é mais lenta.

Pode-se, então, prever que, por causa do fraco desempenho de 2005, a indústria passará a demitir? Depende das expectativas dos dirigentes das empresas com relação ao futuro próximo. Se estiverem confiantes, investirão, o que propiciará uma nova etapa de crescimento da produção, do emprego e da produtividade. Se não investirem, o avanço da produtividade se desacelerará ainda mais, mesmo com a redução do emprego.

O diretor de Planejamento do BNDES, Antonio Barros de Castro, especialista em economia industrial, vê o futuro com otimismo. Ele cita dados sobre o consumo aparente (importações mais a parcela da produção doméstica destinada ao mercado interno) de máquinas e equipamentos (excluídos os de transporte e os agrícolas) para concluir que as empresas voltaram a investir. Mas estes são dados ainda incipientes e, por isso, devem ser avaliados com certo cuidado.