Título: Palocci balança, mas Lula tenta segurar ministro
Autor: Vera Rosa, Lu Aiko Otta, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Nacional, p. A6

Preocupado em evitar mais desgaste, presidente manda Polícia Federal apressar investigações sobre violação da conta bancária de caseiro

Num dia bastante nervoso, marcado por boatos sobre a saída de Antonio Palocci da equipe, o governo desencadeou ontem uma operação de guerra para tentar segurar o ministro da Fazenda, que está em situação crítica. A orientação dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, é para que a Polícia Federal apresse a investigação aberta com o objetivo de apurar os responsáveis pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, a principal testemunha contra Palocci.

À noite, o Palácio do Planalto negou oficialmente que o ministro tenha pedido demissão. Lula fará hoje um discurso veemente em defesa de Palocci, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Para a oposição, a atitude é um sinal de despedida.

"Se a Polícia Federal puder apressar (o inquérito), achamos bom porque, com o resultado definitivo de uma investigação consistente, a ilação pára", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. Quando especulações sobre a queda de Palocci chegaram à internet, às 20h25, Palocci estava reunido com Lula e com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega. Na versão oficial, o tema do encontro era o pacote de bondades para o setor de transporte de carga, além da discussão sobre projetos de infra-estrutura.

"A economia vai passar ao largo dessa crise, pela solidez que alcançou", afirmou Mantega. "Nunca a economia esteve tão vacinada para um ano eleitoral." Wagner, por sua vez, disse que há "excitação excessiva" no debate político. "O presidente Lula sustenta a posição de Palocci", insistiu ele.

Mas, questionado se Palocci permaneceria à frente do comando da economia até dezembro, Wagner preferiu adotar tom cauteloso, apesar da defesa. "A menos que no curso das investigações se revele alguma coisa que seja impeditiva, Palocci fica no cargo", ressalvou Wagner, que deve deixar a equipe no próximo dia 31 para se candidatar ao governo da Bahia.

No intervalo de um seminário sobre Desenvolvimento, o ministro insistiu que Lula está disposto a punir com rigor os responsáveis pela abertura dos dados do caseiro porque "não vai conviver com a quebra da regra democrática".

Ao longo do dia, sucessivas reuniões entre Lula e ministros que compõem a coordenação política ocorreram no Planalto para tratar desse assunto. Thomaz Bastos conversou com o presidente e prometeu agilidade na conclusão do inquérito da PF. É provável que o responsável pelo "vazamento" - como governistas têm chamado a violação do sigilo - dos extratos bancários seja revelado hoje.

A violação do sigilo do caseiro ocorreu na Caixa Econômica Federal. O governo acha que somente entregando "uma cabeça"poderá evitar mais desgaste. "Estamos trabalhando para Palocci ficar", comentou um auxiliar de Lula. Este mesmo colaborador admitiu, no entanto, que a situação está "dificílima".

Em conversas reservadas com petistas, o ministro Antonio Palocci prometeu comparecer amanhã ao almoço de posse do Conselho de Administração da Câmara Americana do Comércio (Amcham), em São Paulo. Avisou que somente nessa ocasião falará sobre a crise.