Título: Caixa tem código de quem violou conta e pode revelar nome hoje
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Nacional, p. A4

Rastreamento leva poucas horas e não justifica prazo de 15 dias que instituição fixou para sindicância

Impresso ilegalmente num terminal da Caixa Econômica Federal, conforme admitiu a própria instituição, o extrato da conta poupança do caseiro Francenildo Santos Costa, o Nildo, contém uma pista que permite ao banco rastrear rapidamente o responsável pela violação de seu sigilo. O código em questão - H4A00000 - está registrado no canto inferior do extrato, ora sob perícia da própria Caixa, da Polícia Federal e do Ministério Público.

Segundo fontes técnicas ouvidas pelo Estado, esse código é uma espécie de DNA da impressão do extrato. De posse desse registro, a Caixa tem condições de acessar o sistema interno e descobrir a qualquer momento de qual computador foi feita a violação do sigilo do caseiro.

Diante de mais essa revelação e preocupada em se livrar da pressão a que está submetida desde a sexta-feira, a instituição pode divulgar ainda hoje o resultado da sindicância interna aberta para identificar quem violou a conta de Nildo. Inicialmente a Caixa tinha dado 15 dias para a conclusão do trabalho, prazo que acabaria em 4 de abril, mas o desgaste com o episódio deve obrigar a instituição a dar respostas imediatas.

A CPI dos Bingos já convocou a vice-presidente de Tecnologia da Caixa, Clarice Coppetti, que vai prestar depoimento na terça-feira. No Congresso e na internet, não cessou a divulgação de nomes de funcionários apontados como responsáveis pela violação da conta. Também provocou preocupação na instituição o rumor de que a Polícia Federal realizaria uma operação de busca e apreensão em seu edifício-sede.

CUIDADO

Segundo fonte da Caixa, como a investigação envolve a apuração disciplinar por falha cometida por algum funcionário, é natural que leve algum tempo. Explica que a instituição precisa se cercar de muito cuidado até para evitar futura contestação na área judicial.

O peritos, no entanto, discordam dessa avaliação. Afirmam que, para descobrir quem violou o sigilo do caseiro, basta a Caixa buscar os registros de operações internas feitas entre as 20h50min25s e 21h06min12s da última quinta-feira, período em que o extrato foi tirado. O código da operação de impressão vai constar desse banco de dados e mostrar qual foi o terminal utilizado. Segundo os técnicos, esse rastreamento pode ser feito em poucas horas e, aparentemente, em prazo bem menor que os 15 dias estabelecidos pela Caixa.

Apesar de a instituição ter informado que o número da matrícula do funcionário foi retirado do extrato, o documento analisado pelo MP e pela PF não aparenta ter sofrido modificações de tamanho ou rasuras. Fontes da área de tecnologia disseram à reportagem que é possível imprimir esse tipo de extrato na Caixa sem que conste o número da matrícula.

De acordo com técnicos do banco, há grande probabilidade de que o responsável pela violação tenha usado senha de acesso da área de segurança tecnológica ou de segurança bancária. Essa linha de investigação leva em consideração o fato de que esses dois setores mantêm acesso constante às contas da Caixa e costumam ter funcionários trabalhando no horário em que foi tirado o extrato (por volta das 21 horas).

Divulgados no blog da revista Época na sexta-feira passada, os extratos mostram depósitos que somam R$ 25 mil desde janeiro na conta poupança de Nildo, aberta numa agência da Caixa em Brasília.

Segundo a versão do caseiro, o dinheiro foi depositado por seu pai, o empresário Eurípedes Soares, dono de linhas de ônibus em Teresina, no Piauí. Nildo explicou que o empresário depositou os recursos para não ter de lhe reconhecer a paternidade.

A versão do caseiro foi confirmada pela mãe dele, Benta Santos, em entrevista ao Estado. O empresário confirmou ter feito os depósitos, mas não quis admitir publicamente ser pai de Nildo.