Título: Em assentamento, vítimas têm vida precária
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2006, Nacional, p. A6

Os sem-terra chacinados 10 anos atrás faziam parte de um grupo que tinha paralisado a Rodovia PA-150 para exigir do governo a desapropriação da Fazenda Macaxeira, em Eldorado dos Carajás. Era uma luta que já se estendia por seis meses, sem perspectiva de sucesso. Após a chacina, porém, a desapropriação aconteceu em um mês e o grupo de 690 famílias de sem-terra foi levado para a antiga fazenda, ocupando uma área de 19 mil hectares. Ainda hoje o assentamento, que ganhou o nome de 17 de Abril, em homenagem aos mortos, patina em dificuldades.

Nesta época de chuvas, freqüentemente a comunidade fica isolada por causa da precariedade da estrada vicinal até Eldorado dos Carajás. Entre o final de março e o início de abril, o transbordamento dos rios deixou o assentamento ilhado durante 20 dias.

"É uma tragédia para qualquer produtor agrícola que depende do escoamento de sua produção", diz o assentado Josimar Pereira de Freitas, que estava na Curva do S no dia do massacre e foi um dos primeiros a cair, atingido por tiro na perna direita. Na sua área de 25 hectares, ele planta arroz, feijão, milho, mandioca e banana, e cria meia dúzia de bois.

Josimar sobrevive do que produz, vendendo o excedente em feiras da região. Mas reclama dos preços. Os valores poderiam ser melhores se os assentados estivessem organizados em cooperativa. Todas as tentativas que fizeram em 10 anos não deram certo. Josimar acredita que em 2007 vão conseguir.

Outra dificuldade é que a maioria dos assentados não tem acesso a financiamento. No ano passado, depois de muito insistir, Josimar conseguiu R$ 13,5 mil do Programa Nacional de Financiamento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Na comparação com outros assentamentos no sul do Pará, o 17 de Abril não está entre os piores. Segundo um coordenador estadual do MST, as dificuldades em alguns são tão grandes que as famílias voltam para a periferia das cidades.