Título: Irã ameaça com ataques suicidas
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2006, Internacional, p. A7

O governo iraniano não comentou ontem notícias de recrutamento maciço de voluntários para atentados suicidas contra os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e Israel.

Segundo duas versões diferentes, do jornal londrino The Sunday Times e da agência de notícias Reuters, estaria havendo preparativos para uma onda de represálias a um eventual ataque americano contra as instalações nucleares iranianas sob suspeita de implementar um programa voltado para a produção de armas atômicas.

Ontem, o Instituto de Ciência e Segurança Internacional, dos EUA, Isis, informou que o Irã está ampliando as instalações da central nuclear de Isfahan e reforçando as de Natanz, temendo um ataque.

Citando como fonte "funcionários iranianos", o Sunday Times informou que 40 mil voluntários já estariam prontos para a ação. O jornal afirma que haveria uma unidade de voluntários na Guarda Revolucionária, uma das forças armadas iranianas. E destaca que eles teriam sido vistos pela primeira vez num desfile militar no mês passado, com fardas verde-oliva, explosivos atados à cintura e segurando detonadores.

De acordo com o jornal, o diretor do Centro para Estudos Estratégicos Doutrinários, Hassan Abassi, teria dito, num discurso, que 29 alvos no Ocidente já foram identificados. "Estamos prontos para atacar pontos sensíveis americanos e britânicos se eles atacarem as instalações nucleares do Irã", teria dito o especialista.

O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, anunciou, na terça-feira, que o país começou a enriquecer urânio, em caráter experimental, para fins pacíficos. A idéia é atingir escala industrial até o fim do ano. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não está convencida do caráter exclusivamente pacífico do programa. O Conselho de Segurança da ONU deu ao Irã prazo de um mês, que expira no dia 28, para suspender o programa. O governo americano não descarta uma ação militar para impedir o Irã de levá-lo adiante. E, segundo recente pesquisa, mais de 50% dos americanos apoiaram um ataque.

Mohammad Ali Samadi, porta-voz do Comitê para a Comemoração dos Mártires da Campanha Islâmica Global, disse à Reuters que o grupo registrou, nos últimos dias, cerca de 200 voluntários para atentados a bomba. "Por causa das ameaças, estamos registrando mais voluntários desde sexta-feira."

Samadi afirmou à agência que, desde a criação do grupo, em 2004, 52 mil pessoas teriam sido recrutadas para participar de atentados.

Mas o porta-voz do comitê, que afirma não ter ligação com o governo iraniano, negou que a Guarda Revolucionária esteja envolvida em ataques suicidas. "Somos o único grupo de busca de martírio no Irã."

Não há notícias de participação direta de iranianos em atentados suicidas. Mas o Irã apóia grupos como o libanês Hezbollah e o palestino Hamas, que executam esses atentados.

Normalmente pouco acessíveis, as autoridades iranianas estavam fora de alcance ontem, por causa do feriado de aniversário do nascimento do profeta Maomé (ler na página seguinte).

No sábado, o chanceler iraniano, Manuchehr Mottaki, afirmou não acreditar num ataque americano. Argumentou que, devido ao agravamento da onda de violência no Iraque, os Estados Unidos não estão em condições de desafiar militarmente o Irã. "A saída é encontrar uma solução diplomática", aconselhou.