Título: Em semana decisiva, Varig apela para nova rodada com credores
Autor: Nilson Brandão Junior e Felipe Werneck
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

A Varig parte hoje para uma sucessão de reuniões individuais com os credores da empresa para apresentar e negociar a proposta de US$ 400 milhões recebida da VarigLog. Na quarta ou quinta-feira, haverá uma reunião prévia com os principais credores. A idéia é alcançar um consenso, antes da assembléia de credores, prevista para o próximo dia 2. A semana é decisiva para a Varig e os donos das 200 mil passagens aéreas emitidas pela empresa.

O quadro foi traçado pelo presidente da Varig, Marcelo Bottini. No Domingo de Páscoa, a diretoria da companhia estava toda reunida na sede, à tarde, traçando as novas estratégias. "A empresa espera, o quanto antes, negociar com os principais credores a viabilização dela (proposta da VarigLog)", contou Bottini. Pela manhã, ele havia participado de missa na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, com trabalhadores e aposentados da Varig.

No fim da missa, para celebrar a Páscoa, o padre André Feitosa referiu-se aos funcionários da Varig: "Deus abençoe vocês e conceda a melhor solução possível." Na saída, Bottini disse que a questão agora é encontrar a "proposta ideal, uma solução de mercado".

Hoje, a empresa vai ao BNDES continuar as sondagens sobre eventual participação do banco em alternativas de capitalização via mercado e haverá uma reunião do conselho da BR Distribuidora, que poderá oficializar decisão sobre pedido de prazo por parte da Varig.

A VarigLog confirmou ontem que a nova proposta explicita o compromisso de a "nova Varig" honrar os bilhetes emitidos pela empresa e a milhagem conquistada pelos clientes no Smiles. Além disso, as informações são de que ficou estabelecido que a "velha Varig" (endividada) terá 5% da nova empresa (que nasceria sem dívidas) e receberá um pagamento anual - recursos com os quais as pesadas dívidas seriam gradativamente abatidas.

Bottini não entrou em detalhes sobre a nova proposta, por conta das cláusulas de confidencialidade. Mas disse que a diferença é "uma flexibilidade" para negociar com os credores.

O esforço, agora, é tentar acomodar os interesses de trabalhadores, o fundo de pensão e demais credores. A VarigLog indicou que não pretende herdar a bilionária dívida da Varig, mas os entendimentos são para tentar equacionar o passivo anterior e o corrente.

A VarigLog é controlada pela Volo Brasil, do qual participa o fundo americano Matlin Patterson. Uma fonte que acompanha o caso informa que o executivo Lap Chan, acionista do Matlin, estará no Brasil esta semana. O fundo está antecipando recebíveis de recursos que a Varig tem a receber do programa Smiles, o que representaria algum reforço de caixa.

Bottini disse apenas que o Matlin tem negociado com a empresa há algum tempo e citou uma antecipação de pagamento no fim de 2005, quando a empresa precisava pagar dívidas com arrendadores de aviões naJustiça americana.

O presidente da Varig negou a informação de que o empresário Nelson Tanure, que fez uma oferta pela Varig em 2005, estaria refazendo uma proposta de compra da empresa.

A aprovação da proposta da VarigLogo por parte dos credores dependerá ainda da aprovação final da assembléia e de uma autorização pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Trabalhadores e o fundo Aerus criticaram a primeira proposta da Varig Log. O presidente da Associação dos Pilotos da Varig (Apvar), Rodrigo Marocco, diz que a proposta da VarigLog precisa ser viável."Vamos analisar", disse.

A Apvar defende a aplicação das aposentadorias de funcionários na empresa. Marocco contou, ainda, que está prevista reunião técnica no Ministério da Defesa para analisar o assunto.

MANIFESTAÇÃO Cerca de 300 funcionários e ex-funcionários da Varig participaram da missa e depois fizeram manifestações na orla de Ipanema, com críticas ao governo. Aposentada há três anos, Gabriela Kvassay, de 55, tirou a roupa de comissária do armário. "Tenho fé, acredito que a Varig vai superar esta crise. Mas estou morrendo de medo, porque dependo da aposentadoria para viver", disse ela, carregando álbuns de fotos acumuladas nos 38 anos de Varig. "Fiz o vôo do papa, em 1980."