Título: Mínimo reforça poder de compra
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2006, Economia & Negócios, p. B7

O pagamento do novo salário mínimo vai injetar uma renda extra de quase R$ 2 bilhões por mês na economia a partir de maio, ajudando a sustentar a recuperação do mercado interno. Em um ano, o incremento chega a R$ 25,4 bilhões, estima o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Além do aumento de R$ 50 no mínimo (passou de R$ 300 para R$ 350), o consumo tem sido favorecido pelo crescimento da massa de rendimentos do trabalho, estimulado pela retomada do emprego.

O ritmo de atividade de indústrias voltadas para o chamado setor de bens de salário, que inclui alimentos, produtos de limpeza, higiene pessoal e material de construção, entre outros, dá sinais de aceleração, o que abre perspectivas para o crescimento da economia em 2006.

A Caramuru Alimentos, maior processadora de grãos de capital nacional no País, com faturamento anual de R$ 1,5 bilhão, por exemplo, registrou aumentos de 10% a 16% nas vendas de óleos, pratos pré-cozidos e farinhas nos últimos três meses, comparadas com igual período do ano passado."O mercado está reagindo bem", diz Cesar Borges de Sousa, vice-presidente da Caramuru.

Sousa estima que o ritmo será mantido até o fim do ano. Com isso, segundo ele, a tendência é de que a demanda doméstica passe a responder por 65% do faturamento da empresa, ante 60% em 2005. "Além do fortalecimento do consumo interno, a taxa de câmbio continua desfavorável às exportações".

No setor de artigos de higiene pessoal, o faturamento das empresas no trimestre cresceu 16%, em média, informa a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). "Considerando que o preço médio dos produtos subiu menos de 1% nos últimos 12 meses, o resultado é bastante significativo", observa João Carlos Basilio da Silva, presidente da entidade.

Para o ano, a estimativa inicial da Abihpec é de crescimento de 14% no faturamento do setor, número que deverá ser revisto para cima. "O desempenho do primeiro trimestre superou todas as expectativas. Vamos aguardar os números dos próximos meses, que vão refletir os efeitos do reajuste do salário mínimo e das encomendas para o Dia das Mães, antes de refazer nossas projeções."

TERMÔMETRO As vendas de embalagens de papelão ondulado, consideradas um dos termômetros do ritmo da atividade econômica, também surpreenderam. De acordo com a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), foram expedidas 526,4 mil toneladas nos primeiros três meses do ano, o que representou crescimento de 5,9% em relação a igual período de 2005 (497,1 mil toneladas). "Esperávamos entre 3,5% e 5%", diz Paulo Sérgio Peres, presidente da entidade. "No ano passado, o mercado interno mais patinou do que andou. Qualquer melhora no consumo tem reflexo nas vendas do setor. É o que estamos assistindo agora."

Quase 50% da produção de papelão ondulado é destinada a embalagens dos chamados produtos básicos. O setor alimentício responde por 36% das entregas; já o de produtos de limpeza doméstica e artigos de higiene pessoal, mais 8,5%. Outros 7% vão para bebidas e fumo e 3,1%, para produtos farmacêuticos e perfumaria. "O aumento do salário mínimo vai provocar um consumo maior nessas áreas", acredita o presidente da ABPO.

Conforme estimativas do Dieese, 39,9 milhões de brasileiros têm seu rendimento referenciado no salário mínimo. Cerca de 16 milhões são beneficiários do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

Com o novo mínimo é possível comprar o equivalente a 1,99 cesta básica, tendo como referência a capital paulista. É o maior poder de compra desde 1979, segundo o Dieese. A entidade calcula que o aumento do mínimo deverá proporcionar ao governo uma arrecadação tributária adicional da ordem de R$ 6,3 bilhões em 12 meses.

O varejo de material de construção também está otimista com a recuperação da massa de rendimentos da população. Nos últimos três meses, as vendas aumentaram 6% sobre igual período de 2005. "Ainda não temos um espetáculo do crescimento , mas é um número interessante", diz Cláudio Elias Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). A expectativa é de que as vendas cresçam entre 6% e 7% este ano.

A combinação da renda em alta e o dólar em baixa fez aumentar as importações. A Associação Brasileira dos Importadores de Produtos Populares (Abipp) já projeta para 2006 um aumento de 32,5% no faturamento das empresas do segmento - R$ 8,3%, em 2005, para R$ 11 bilhões. Pelos cálculos da entidade, o volume de produtos populares importados deverá chegar a 200 milhões, ante 130 milhões no ano passado.