Título: Alckmin agora quer PPP do Tietê
Autor: Bárbara Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2006, Metrópole, p. C5

Governador, que entrega hoje obras de rebaixamento da calha, deve propor parceria para paisagismo e limpeza

O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que deixa o cargo até o fim do mês para se dedicar à campanha presidencial, entrega hoje a maior obra da sua gestão, o rebaixamento da calha do Rio Tietê, de olho em outro desafio: a manutenção do que foi feito até agora, incluindo paisagismo, desassoreamento e retirada de entulho. Ele não quer pôr a mão no bolso, apesar de o orçamento do Estado prever R$ 10 milhões para isso. Por isso, Alckmin deve anunciar hoje a intenção de firmar Parcerias Público-Privadas (PPPs).

A manutenção é necessária para evitar que areia e entulho se acumulem no leito do Tietê e reduzam sua vazão. "Hoje o rio está navegável. Tanto que toda a retirada de entulho vai ser feita por barco", afirma o superintendente do Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica (Daee), Ricardo Borsari. Dali, o material será levado para depósitos autorizados, de acordo com a Secretaria de Recursos Hídricos.

A destinação da terra retirada do Tietê foi um dos pontos mais polêmicos nesses quatro anos de obra e ainda promete dar muita dor de cabeça ao governo do Estado. Ele é acusado numa ação movida pelo Ministério Público Federal - e que está no Supremo Tribunal Federal - de depositar irregularmente material contaminado - até cancerígeno - na Lagoa de Carapicuíba, Grande São Paulo.

A Procuradoria pede a recomposição da lagoa e a retirada de todo o material já depositado, a maior parte dele enterrada sob uma unidade da Faculdade de Tecnologia (Fatec) a ser inaugurada neste ano.

Por um ano, dezenas de caminhões descarregaram toneladas de terra e lixo na lagoa. Peixes apareceram mortos e moradores da favela ribeirinha deixaram de tirar dali sua principal refeição. Hoje, quase três anos depois, alguns se arriscam e pescam no local, que lembra os tempos de abandono do Tietê. Há mato e montanhas de entulho e lixo que cheiram mal. "Isso vai alimentar sete famílias", diz Pedro Antônio da Costa, de 64 anos, ao sair da lagoa com um balde cheio de tilápias.

Mas o fim das obras significa, para quem mora perto do Tietê, o fim de transtornos como explosões (para aprodundar a calha do rio) e enchentes. A dona de casa Eliana Ferreira Gindro, de 33 anos, que vive a 20 metros do rio, do lado da Ponte dos Remédios, ficou surpresa com o visual. "Ficou bem melhor. Não só pela beleza, mas porque tiraram o lixo das margens. Era horrível."

As enchentes eram o problema mais sério para a vizinhança. "Nossa, direto entrava água em casa. Mas na chuvona de quinta-feira deu tudo certo", disse Lélia Rosa Polido dos Santos, de 34, que mora a duas quadras do Tietê.

Para que essa expectativa se concretize, Borsari estima que, a cada ano, sejam retirados cerca de 500 mil metros quadrados de sedimentos do fundo do rio no período de secas. Durante as chuvas, será necessária a limpeza superficial do lixo carregado pela água.

Há ainda o paisagismo, que em dois anos deve transformar o cenário da Marginal do Tietê.

Todos os detalhes da obra estarão num livro do deputado Antônio Carlos de Mendes Thame (PSDB-SP), secretário de Recursos Hídricos na gestão Mário Covas. "Escavamos para ter um Tietê no espaço de dois", afirma. A obra será lançada em abril. "Não tenho dúvida de que o destino do rio é ser atração turística."