Título: Grão especial é raridade no mercado e vale ouro
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2006, Economia & Negócios, p. B8

Produzir café especial, com qualidade certificada, é um bom negócio. O preço de uma saca de 60 quilos do produto chega a custar no mercado entre US$ 15 e US$ 30 acima da cotação do café tido como uma simples commodity.

Essa especialização vale a pena, dizem os produtores certificados do cerrado de Minas Gerais. Funciona como uma espécie de seguro em relação às oscilações de mercado e atenua as perdas enfrentadas, especialmente agora com a valorização do real ante o dólar.

Que diga o cafeicultor Elmiro Resende Cunha, de 73 anos, o primeiro produtor certificado pelo Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (Caccer) em Monte Carmelo, um dos 55 municípios que integram a área demarcada pela certificação de origem controlada do cerrado mineiro, no oeste do Estado. Ele foi certificado nos três quesitos: qualidade, rastreabilidade e modo de produção. "A certificação faz a diferença quando os preços estão baixos", afirma Cunha.

Ele conta que tem café vendido para setembro a US$ 136 a saca. Se o dólar recuar para R$ 2, ele embolsará R$ 272 e, mesmo assim, ganhará dinheiro, já que o custo de produção oscila entre R$ 180 e R$ 200.

Cunha diz que, no passado, não tinha muita garantia na atividade. Mas, com a profissionalização, o cenário mudou. "Quem não for profissional na cafeicultura está com os dias contados", prevê.

Com 160 mil pés de café em produção, ele vai colher neste ano 4 mil sacas. Em algumas áreas chega a tirar entre 80 a 100 sacas por hectare, bem acima da média do cerrado e do Brasil, que é de 25 e 12 sacas, respectivamente. Entre 30% e 40% da produção é exportada.

Ricardo Bartholo, de 56 anos, dono da Fazenda Cinco Estrelas em Patrocínio (MG), desde agosto do ano passado tornou-se produtor certificado nos três quesitos. Gastou R$ 70 mil de recursos próprios para se enquadrar nos critérios do modo de produção do padrão certificado, como construir uma nova área para armazenagem de defensivos, por exemplo, mas não se arrepende."Seguindo o modo de produção, ampliei entre 15% e 20% a produtividade da fazenda e reduzi de 5% a 7% o custo variável."

O cafeicultor diz que, depois da certificação, a sua fazenda ficou mais organizada, todas as tarefas estão documentadas e não há serviço atrasado. Hoje os próprios funcionários recebem cursos na fazenda para desempenharem novas funções.

Junto com o filho Gustavo e oito empregados, ele toca 173 hectares de café e produz 5 mil sacas por ano. Cada talhão tem uma placa onde constam indicações básicas do café, como a idade do pé, a variedade, entre outros itens.

Hoje cerca de 30% do café fino que produz é totalmente exportado para o Japão. O café tradicional, porém diferenciado, é vendido para os EUA e Europa. Ele diz que consegue cerca de US$ 10 a mais por saca sobre o preço médio do mercado por causa da qualidade certificada e rastreabilidade do produto.

Segundo Bartholo, faltam no mercado cafés com qualidade certificada. "A demanda das torrefadoras está aumentando." O Japão deveria, partir deste ano, só importar cafés certificados, por questões de segurança alimentar. Mas, diante da escassez desse tipo de produto, adiou a medida para 2007.Nos EUA, ainda não há uma lei a respeito.