Título: Em PE, mais empregos e de maior qualidade
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2006, Economia & Negócios, p. B6,7

Empresas 'importam' novos sistemas de gestão e treinamento

José Alexandre Laurentino de Lima, 24 anos, pensou em deixar o curso de Licenciatura em Química na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), ainda no primeiro período. A universidade é pública, mas, desempregado há 15 meses, não tinha como pagar transporte e material didático.

Procurava emprego, nenhuma porta se abria. Com um pouco de experiência como operador de produção do período em que trabalhou na Unilever, candidatou-se, em fevereiro do ano passado, a uma vaga na primeira fábrica que a Pepsico iria implantar no Nordeste, para fabricação de salgadinhos Elma Chips. Foi selecionado. Voltou à faculdade e está empolgado com o sistema de gestão adotado pela empresa, chamado Time Autogerenciável (Tag) .

"Nunca tinha visto um treinamento tão longo, proveitoso, em que a gente se aprofunda", afirmou ele, enquanto ajudava nos preparativos para a inauguração da fábrica, depois de amanhã.

Durante cinco meses, ele viajou para as unidades da empresa em Itu (SP), Curitiba e Sete Lagoas (MG). "Fui treinado em informática, qualidade, segurança, limpeza, manutenção, relacionamento interpessoal", enumerou. A função dele é de controlador de perda de embalagem; na verdade, é um operador multifuncional.

"A gente tem de saber como as coisas funcionam em todas as áreas porque é a gente que toma as decisões, a gente que na verdade administra a fábrica." O gerente de produção Luís Bettanin confirma: "O TAG representa uma quebra de cultura, não há nível intermediário entre gerência e operadores. Eles definem os planos de produção, férias, horas extras, contratam, demitem, avaliam."

Marcelo Joaquim de Almeida, 33 anos, casado, cinco filhos, é outro operador multifuncional. Trabalha no planejamento e controle de produção e se reporta diretamente ao gerente de produção da fábrica e ao diretor da empresa, em Itu. "Nunca participei de tanto treinamento", confessa.

Todos interagem. Se um não faz bem, todos perdem. O desempenho cai e, conseqüentemente, a avaliação da equipe. Também agrada o fato de não haver necessidade de disputa para promoções ou aumentos salariais.

"É um desafio, e por si só, um estímulo", resumiu Rosângela Pereira de Moura Araújo, 32 anos, da área da segurança do trabalho. "É uma situação nova que dá mais responsabilidade, mas ao mesmo tempo mais valorização e autoconfiança."

Mesmo com um número baixo de contratações - o anúncio oficial é de 200 empregos diretos -, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Alexandre Valença, frisa que ao atrair empresas bem estruturadas e modernizadas, Pernambuco já abriga um parque industrial diversificado e atualizado tecnologicamente.

Ele lembra que a posição geográfica do Estado é excepcional e o complexo portuário e industrial de Suape, no município metropolitano do Cabo de Santo Agostinho, é "uma plataforma de exportação".

"Pernambuco se sobressai pela qualidade, estrutura de transporte, comunicações", afirma. "O governo estadual investiu muito em infra-estrutura, nas estradas, portos e aeroportos."