Título: Hamas apresenta governo a Abbas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2006, Internacional, p. A21

Provável chanceler será o linha-dura Mohamed an-Zahar enquanto a pasta das Finanças ficará com moderado

O futuro primeiro-ministro palestino, Ismail Haniye, do grupo islâmico Hamas, anunciou ontem que completou a formação de seu gabinete e está confiante em que o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, lhe dará seu aval. Os dois devem reunir-se hoje na Cidade de Gaza, mas assessores de Abbas já indicaram que ele não imporá obstáculos a Haniye.

Pela lei palestina, o aval de Abbas é necessário para que os nomes sejam enviados à aprovação do Parlamento. Só depois de cumprida essas etapas, o novo governo palestino tomará posse. Isso só deve ocorrer, segundo políticos locais, após a eleição parlamentar israelense, marcada para o dia 28. Haniye não quis revelar à imprensa os nomes dos ministros, pelo fato de ainda não ter encaminhado a proposta a Abbas. No entanto, alguns dirigentes do Hamas adiantaram sob anonimato que os cargos-chave - as pastas das Finanças, Interior e Relações Exteriores - ficarão com o próprio grupo. Outros ministérios terão à frente políticos independentes (simpatizantes do Hamas) e tecnocratas.

Segundo a Associated Press, é praticamente certa a nomeação de Mahmud an-Zahar, o n.º 2 do Hamas na Faixa de Gaza, para o posto de chanceler. Zahar é considerado um linha-dura no grupo, que tem em Haniye um dos políticos mais moderados. Para o Ministério do Interior irá o deputado Said Siyam, de, considerado um moderado.

Se a Frente Popular de Libertação da Palestina aceitar ingressar no governo, poderá indicar o ministro das Finanças. Caso contrário, o cargo será do professor de Economia, Omar Abdel-Razek, da Cisjordânia.

Tentando apaziguar a comunidade internacional, nas últimas semanas o Hamas buscou, sem sucesso, formar uma coalizão com o partido de Abbas, o Fatah - que o grupo derrotou nas eleições parlamentares de janeiro. EUA e União Européia, principais doadores de ajuda aos palestinos, classificam o Hamas como terrorista. Com um governo só com seus próprios quadros, ficará mais difícil para o Hamas reverter a decisão dos EUA e dos europeus de cortarem sua ajuda à Autoridade Palestina. O grupo não cedeu às pressões para que reconheça a existência de Israel e abandone a luta armada.