Título: Sem-terra ocupam fazenda da Suzano Celulose
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2006, Nacional, p. A4

Cerca de 2.000 militantes do MST da Bahia invadiram ontem cedo uma fazenda da Suzano Papel e Celulose em Teixeira de Freitas, no sul do Estado. Para armar suas 300 barracas, os invasores arrancaram centenas de mudas de eucalipto da propriedade.

Além de relembrar o massacre de Eldorado dos Carajás, os líderes voltaram a reivindicar a posse da fazenda, de 975 hectares, alegando que a Suzano a comprou quando já corria o processo de desapropriação pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra). A direção da Suzano garantiu que as terras são produtivas e já solicitou a reintegração de posse da área.

Em Salvador, outro grupo do MST passou a manhã protestando em um acampamento na Rótula do Abacaxi. Dali , marchou até o Fórum Ruy Barbosa, causando grandes engarrafamentos.

Em Minas, o ato foi lembrado pelo MST com duas invasões durante a madrugada de ontem. Uma delas foi na fazenda Vereda São João, em Coração de Jesus, a 475 quilômetros de Belo Horizonte. Do ato participaram 78 famílias. Outras 60 ocuparam a Bonsucesso, entre Capitão Enéas e Janaúba.

Além de homenagear os 19 mortos de Carajás, a ação pretendia "cobrar os compromissos de campanha do governo, de assentar todas as famílias acampadas". Em Campo Grande e outras cidades do Mato Grosso do Sul, militantes sem terra também doaram sangue em vários hospitais.

No Rio Grande do Sul, o MST bloqueou cinco rodovias por 19 minutos - cada minuto em homenagem a um dos 19 mortos. Eles interromperam em diversos trechos a BR-293, a BR-116, a BR-158, a BR-285 e a BR-286.

No Paraná, o aniversário foi marcado com discursos e comemorações em Rio Bonito do Iguaçu. Hoje, a Comissão Pastoral da Terra e o MST promovem ato religioso às 19 horas, no centro de Curitiba.

Em Alagoas, vários movimentos estão organizando para hoje uma marcha de Maceió até Atalaia, a 48 quilômetros dali - um lugar conhecido por seus conflitos agrários.

Até mesmo em Washington, nos Estados Unidos, o episódio foi lembrado. Cerca de três dezenas de manifestantes, a maioria alunos da American University, marcharam sob a chuva mais de dois quilômetros até a Embaixada do Brasil. Uma delegação encabeçada pelo professor Miguel Carter foi recebida pelo embaixador Roberto Abdenur e entregou-lhe uma carta dirigida ao presidente Luiz Inácio da Silva.