Título: No Pontal do Paranapanema, Rainha comanda dez invasões
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2006, Nacional, p. A4

Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram ontem dez fazendas em seis municípios do Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado de São Paulo. O movimento mobilizou cerca de mil militantes para as ações, realizadas de forma quase simultânea.

De acordo com o líder José Rainha Júnior, a ação foi um protesto contra a impunidade dos responsáveis pelo massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, ocorrido em 17 de abril de 1996.

Rainha disse que o massacre cobriu o País de vergonha, "mas o mais vergonhoso é que até agora continuam aparecendo culpados, mas todos estão impunes". Segundo ele, enquanto a impunidade persistir, todo 17 de abril será marcado por ocupações no Pontal. "A cada ano será ocupada uma fazenda a mais."

Foram invadidas ontem as Fazendas São Francisco, Morumbi e Bonanza, em Mirante do Paranapanema; Santa Terezinha, em Santo Anastácio; São Camilo, em Presidente Venceslau; Nossa Senhora das Graças,em Caiuá; Santa Lúcia e Ponte Banca, em Euclides da Cunha Paulista, e Margarete e 6R, em Teodoro Sampaio.

Não houve confrontos durante nenhuma das invasões. A maioria das propriedades já tinha sido ocupada anteriormente pelo movimento. Segundo Rainha, a intenção dos militantes é permanecer nessas áreas, pois seriam devolutas e deveriam ser destinadas a assentamentos.

INVERNADA

A Fazenda Nossa Senhora das Graças já foi invadida "umas 30 vezes", protestou o proprietário, Luiz de Barros Coelho. Desta vez, os sem-terra entraram numa invernada com 700 bois. Coelho mandou transferir o gado para outro pasto, com receio de que os invasores abatam animais. "Fizeram isso outras vezes", contou. Ele pretende entrar hoje com um pedido de reintegração de posse no Fórum de Presidente Epitácio.

A líder sem-terra Deolinda Alves de Souza, mulher de Rainha, disse que as ações foram coordenadas, mas cada grupo tem sua própria liderança. Segundo ela, as fazendas ocupadas já foram vistoriadas por uma força-tarefa do Incra ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso. "Gastaram dinheiro público com as vistorias e depois deixaram como está: como terras devolutas."