Título: Para ele, MST trocou reforma por vandalismo
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2006, Nacional, p. A4,5

Governador acusa Lula de omissão e não quer montar um 'paulistério'

O candidato Geraldo Alckmin acha que o Movimento dos Sem Terra (MST) substituiu a bandeira da reforma agrária, que ele considera legítima, pelo vandalismo. Acusou o governo Lula de ser omisso "com quem está à margem da lei" e afirmou que o Brasil "precisa de estabilidade e segurança para um investimento produtivo". E define: "Invadir laboratórios e centros de pesquisa não tem nada a ver com reforma agrária."

Alckmin voltou a pregar "um banho de ética, eficiência e crescimento", admite que na campanha poderá falar do mensalão, mas antecipa que este tema não será o mais importante. Disse que começará sua campanha em uma viagem pela Transamazônica, em abril. E prometeu que, em seu eventual governo, não haverá "paulistério", mas um "brasilério", com quadros de todo o País.

O governador vê a segurança pública como o quarto item de seu programa de governo e propõe um emprego maior das Forças Armadas para policiar as fronteiras. Ele entende que o governo federal tem atribuições importantes na segurança pública. "O governo Lula foi omisso na segurança pública, não entendeu a gravidade da situação."

No governo Lula o MST está invadindo como nunca. Como o senhor vai tratar disso?

Eu vejo um equívoco de algumas entidades. Eles estão substituindo uma bandeira legítima, a da reforma agrária, por vandalismo e o governo não pode ser omisso e nem cúmplice de quem está a margem da lei.

O governo Lula está sendo omisso com o MST?

Não tenho a menor dúvida, tem sido omisso. O Brasil não precisa disso, precisamos de estabilidade e segurança para um investimento produtivo.

Como o senhor faria a reforma agrária, se eleito?

Ela é necessária, mas temos de pensar em alguns pontos. O primeiro é a escolha dos assentados entre quem tem vocação e precisa trabalhar na terra. Hoje vemos uma relação patrimonialista, distribui-se terras que vão para terceiros. O segundo é um apoio técnico, financiamento. Mas é possível com apoio técnico. Não é só distribuir terra. Invadir laboratórios e centros de pesquisa não tem nada a ver com reforma agrária.

Como montar o ministério sem o famigerado toma lá da cá?

Primeiro: formar equipes é fundamental e ela deve ser preparada. Se você não tiver a pessoa certa no lugar certo não há dinheiro que faça as coisas direito. A qualidade do governo é qualidade das pessoas que o compõem e essas pessoas estão em vários partidos. Alguns falam de "paulistério", na verdade isso existe hoje. No meu governo haverá o "brasilério".

O senhor vai fazer campanha sem falar no mensalão?

Isso pode e deve ser falado mas não é o ponto central da campanha. O eleitor não vai votar para presidente por causa de um erro do adversário e sim pela confiança no candidato. O contraditório vai ter, mas não é o principal. O essencial é ter a confiança da população mostrando que não tem caminho fácil e que é possível melhorar muito no ponto de vista ético. Tomando um banho de ética, eficiência e crescimento.

O seu adversário, Lula, é carismático. Quais são as vantagens e desvantagens disso?

O povo está cansado de blabláblá, de promessas, do abismo entre o falar e o fazer. Mas nós temos o que mostrar. Muito do que se discute, o governo de São Paulo fez - austeridade, eficiência, recuperação da capacidade de investimento do Estado, redução de impostos, qualidade no gasto público, desenvolvimento. Em 2004 crescemos 7,6 % do PIB. Isso foi feito e vamos mostrar.

O senhor é conservador?

Absolutamente nada.

O que o senhor faria com o Bolsa Família?

A rede de proteção social foi criada pelo governo Fernando Henrique. Ele criou o Bolsa Escola, o Bolsa Alimentação e o Vale-Gás. Quando o presidente Lula assumiu, ele pegou o programa com 5,5 milhões de famílias. Do jeito que eles (o governo petista) falam, dá a impressão de que começou agora. Mas isso não basta. Você tem que possibilitar às famílias avançar - capacitação, qualificação profissional, ensino, emprego, banco do povo, apoio ao pequeno empreendedor. Esse é o caminho. Eu não vou acabar com o Bolsa Família, porque programa de complementação de renda é correto.

Qual, a seu ver, o papel das forças armadas?

Foi corretíssima a criação do Ministério da Defesa, um ministro civil e as três armas dentro do ministério. Eu reforçaria o papel de controle das fronteiras. Nós temos hoje problemas sérios no tráfico de armas e drogas. Então, é preciso integrar as forças armadas com a polícia federal e nós darmos absoluta prioridade à questão de polícia de fronteira. Vamos dar um exemplo: às vezes os Estados enxugam gelo. Aqui em São Paulo nós pegamos uma arma a cada 14 minutos. Por onde entram essas armas? O governo tem atribuições importantes na questão da segurança pública. Primeiro, a legislação principal é federal; segundo, a fronteira é um problema federal; terceiro, os fundos constitucionais de segurança e penitenciário são atribuições federais; e quarto, a questão da inteligência policial. Crime não respeita o limite do Estado. É preciso ter sistemas integrados no País todo para poder avançar. O governo Lula foi omisso na questão da segurança pública, não entendeu a gravidade da situação.

No seu governo forças armadas sobem o morro?

Se for necessário, pontualmente, podem subir. Mas achar que as forças armadas podem rotineiramente exercer papel de polícia é um equívoco. Elas não foram treinadas para isso. Mas elas podem ter um papel muito importante na questão das polícias de fronteira. O importante de tudo, no entanto, é haver uma integração melhor com os Estados.