Título: Alckmin avalia times e idéias para economia
Autor: Suely Caldas
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2006, Nacional, p. A6

Governador não revela preferências, mas tem concordado com conselhos de Malan e Armínio para manter política macroeconômica

Desde o fim do ano passado o governador Geraldo Alckmin tem ouvido, perguntado, anotado e encomendado papers para economistas de correntes divergentes e ligados ao PSDB. Agora, candidato oficial, prepara nova rodada de conversas para escolher, finalmente, as idéias que defenderá na campanha eleitoral e vão compor seu programa econômico de governo. Preferências ele não revela, mas são conhecidas suas relações de amizade e confiança com Yoshiaki Nakano e o ex-ministro Pedro Malan, com quem costuma se aconselhar, inclusive para compor equipe, como ocorreu na escolha de Eduardo Guardia para a Secretaria de Fazenda de seu governo em São Paulo.

Nessa maratona de conversas, o candidato tucano incluiu Armínio Fraga, Edmar Bacha, Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ilan Goldfajn, Amaury Bier e Claudio Moura e Castro, além de Nakano e Malan, com quem esteve mais de uma vez em jantares no Palácio dos Bandeirantes, levado por Guardia.

Fez parte também uma visita à Casa das Garças, no Rio, reduto do Departamento de Economia da PUC-RJ, que no governo FHC rivalizou com o grupo de economistas de São Paulo representado pelo prefeito José Serra e os irmãos Luiz Carlos e José Roberto Mendonça de Barros.

Disciplinado e avesso a ousadias e riscos, Alckmin tem concordado com os conselhos de Malan e Armínio Fraga para manter a política macroeconômica que Palocci deles herdou e consiste em metas de inflação, câmbio flutuante, aperto fiscal e o uso da taxa de juros para controlar a inflação. Mas com uma diferença: acelerar o ritmo de queda dos juros. Em relação à dívida pública, que já ultrapassa R$ 1 trilhão, Edmar Bacha defendeu a desvinculação gradativa da taxa Selic, com o governo oferecendo um pequeno ágio para seus papéis, com o que concorda Mendonça de Barros - e o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, tem feito com relativo sucesso. Em relação ao câmbio, porém, Mendonção fala mais explicitamente do que os outros em uma "flutuação suja", com intervenções do Banco Central "sempre que necessário".

O governador não manifesta oposição a essas questões, mas quer mais. Sua insistente fixação é extrair dos interlocutores idéias para a economia crescer de forma sustentada e a taxas mais elevadas, de 5%, 6%. "Crescer, desenvolver, é a preocupação central, que ele repete a todo momento", conta um deles. Do grupo de Malan, Armínio, Goldfajn e Amaury Bier, Alckmin não ouviu idéias novas. Não há milagres nem mágicas, argumentam. O que precisa é de um choque de seriedade e disposição de acelerar as reformas - tributária, previdenciária e trabalhista - para reduzir o custo Brasil e atrair investimentos. Mas não só isso: as microrreformas concebidas pelo ex-secretário de Política Econômica do governo Lula, Marcos Lisboa, são fundamentais para desburocratizar, tornar a economia eficiente, encurtar prazos, facilitar a abertura de negócios, criar ambiente favorável ao investimento privado e, dessa forma, inverter a sensação que o empresário tem hoje e dever favores ao Estado ao desencadear um projeto.

Mendonção diz que pretende detalhar um programa centrado no crescimento agora, com a escolha do candidato. Mas ele propôs uma estratégia para crescer reduzindo juros, controlando inflação e desvalorizando o real: abrir a economia, reduzir tarifas, expandir importações e reduzir o saldo da balança comercial. Argumenta que o setor externo da economia passou por mudanças estruturais no governo Lula, com acumulação de reservas cambiais e saldos comerciais elevados, que afastam o risco de voltar a ocorrer crises cambiais, como as que aconteceram no primeiro mandato do governo FHC.

Não é novidade que Malan, Bacha e Armínio Fraga há muito defendem maior abertura comercial. O inusitado é a idéia partir de Mendonça de Barros, um paulista que transita entre empresários da Fiesp e do Iedi, que abominam a idéia de enfrentar tarifas de importação baixas e perder na concorrência com o produto importado.