Título: Governo quer que Palocci resista até dia 31
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2006, Nacional, p. A10

Apesar do apoio de Lula, ministro está 'tecnicamente' fora, dizem auxiliares do presidente

Por mais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diga que deve muito ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, como afirmou sexta-feira em São Francisco do Sul (SC), a situação do comandante da economia não mudou. Palocci está tecnicamente fora do governo, comentam auxiliares do presidente. A intenção do Palácio do Planalto, agora, é tentar fazer com que Palocci resista até o dia 31, quando os ministros que tencionam se candidatar a algum cargo eletivo entregarão seus postos.

Também de acordo com auxiliares de Lula, até o sucessor de Palocci já está praticamente escolhido. Deve ser Murilo Portugal, atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Só não será confirmado no cargo se houver resistência muito forte do PT, pois ele é um técnico sem filiação partidária. Como a ala petista que mais combatia a política econômica foi expulsa ou abandonou o partido, o Planalto acredita que os protestos não serão muito grandes. Sexta-feira o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, disse que o presidente do PT, Ricardo Berzoini, confia na política econômica.

Pela informação de um auxiliar do presidente, o próprio Lula tem lembrado que a política econômica não deve ter cor partidária. Em parte, o responsável pela consolidação dessa idéia foi o próprio Palocci. Ele evitou que o Ministério da Fazenda fosse aparelhado pelo PT. Seus assessores foram escolhidos entre pessoas com as quais nunca tinha tido contato, como o próprio Portugal.

Outra informação de auxiliares do presidente Lula dá conta de que Palocci está muito abalado psicologicamente por causa das declarações do caseiro Francenildo Santos Costa. Em entrevista ao Estado, na terça-feira, e depois em depoimento à CPI dos Bingos, na quinta, Nildo, como é conhecido o caseiro, disse que o ministro freqüentava a mansão alugada por ex-assessores de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto. A mansão era usada para lobby e para festinhas com prostitutas. Palocci declarou à CPI dos Bingos que nunca tinha ido lá.

Na visão de auxiliares de Lula, o que Palocci fez ou não na mansão diz respeito à vida dele. O problema é que a casa foi montada para ser local de lobby, comandado por pessoas que tinham amizade com o ministro.

Esse fato é tido como uma grande fonte de argumentos para os ataques da oposição no ano eleitoral. Afinal, sempre que se trata de questões relativas aos amigos de Ribeirão Preto, Palocci não tem conseguido dar explicações convincentes. Tem até mostrado compreensão com os que o atacam. Em depoimento na Câmara, disse que não processará o advogado Rogério Buratti, seu ex-secretário, que o acusou de montar caixinha de R$ 50 mil mensais oriundos de empresas de lixo.

No Palácio do Planalto, ninguém tem a ilusão de que os oposicionistas vão parar os ataques contra Palocci e o governo. Do ponto de vista da campanha da reeleição, Lula está numa encruzilhada, diz um ministro. Com Palocci no governo, o fogo da oposição vai se concentrar em sua figura. Isso poderia trazer desgastes imensos para a campanha. Mas, se Palocci deixar o cargo, perderá o foro privilegiado de somente ser processado pelo Supremo Tribunal Federal. Eventual ordem de prisão por causa dos vários inquéritos em Ribeirão também aumentaria o desgaste de Lula.

Um auxiliar do presidente comenta que o escândalo do mensalão foi esquecido pela população. O temor no Planalto é de que os eleitores sejam influenciados negativamente pelo novo escândalo.