Título: 'Recuperação da companhia ainda é viável'
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2006, Economia & Negócios, p. B3

O juiz que conduz o processo de recuperação judicial da Varig, Luiz Roberto Ayoub, descartou ontem a possibilidade de decretação de falência da companhia aérea. Segundo ele, o administrador judicial no processo - a consultoria Delloite - e a empresa contratada para a reestruturação da empresa, a americana Alvarez&Marsal, indicam que a recuperação é viável.

"Eu lamento que estejam antecipando decisões que o juiz nem pensou", disse Ayoub, durante entrevista coletiva na tarde de ontem. Ele esclareceu que trabalha com a possibilidade de falência desde o início do processo de recuperação, mas não há motivos no momento para isso. "Marcaram até data (de eventual paralisação), só se esqueceram de me avisar. A empresa sofre turbulências muito em função de notícias desencontradas", disse.

As declarações do juiz foram dadas praticamente duas semanas depois de uma sucessão de notícias e versões sobre um possível colapso da companhia aérea. Na manhã de ontem, a mesma mensagem foi transmitida ao presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. O comandante da Anac e o juiz do caso reuniram-se por três horas no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

"Não serei irresponsável em pôr fim a uma empresa que ainda se mostra viável", reforçou Ayoub. O juiz explicou que um dos motivos da viagem de Zuanazzi ao Rio era o "noticiário desencontrado".

"Temos de conversar. Eles (a Justiça) estão dirigindo o processo de recuperação judicial e nós somos o poder concedente", disse o presidente da Anac, ao final do encontro, do qual participaram também representantes da Deloitte e da Alvarez&Marsal.

CONVERGÊNCIA Na prática, agência e Justiça tentam uma convergência. Ayoub explicou que a Anac quer se aproximar, "até porque qualquer decisão no futuro, seja em um sentido ou no outro, todos temos de convergir".

Zuanazzi disse acreditar que a Varig tem saída. "Acredito sim, já tenho declarado", respondeu ao ser questionado. E afirmou que "o mais importante disso" é que a companhia aérea vem operando com segurança. "O passageiro pode usar a Varig com segurança", garantiu.

O presidente da Anac informou que a agência está analisando a compra da VarigLog pela Volo Brasil, que tem participação acionária do fundo americano Matlin Patterson, e vai analisar a proposta de compra da Varig pela ex-subsidiária. No entanto, não quis antecipar opinião sobre o assunto. Ontem, reestruturadores da Varig foram ao BNDES dar seguimento a alternativas de participação do banco em uma solução de mercado para a Varig, como uma participação num fundo que deverá ser registrado na CVM nesta semana, ou em uma eventual cisão da empresa, financiando o comprador. O encontro foi realizado com a equipe de mercado de capitais do banco.

NA JUSTIÇA O dia foi nervoso na Justiça ontem. Enquanto o juiz da Vara Empresarial reunia-se com os reestruturadores da empresa e a equipe da Anac, advogados da BR Distribuidora aguardavam na porta do Juízo, com receio de ser decidida uma liminar que eventualmente obrigue a estatal a dar prazo para a Varig - mas isso não ocorreu. O juiz informou que não havia recebido pedido nesse sentido até o início da noite. Caso a decisão seja tomada, advogados da distribuidoras informaram que devem recorrer.

Paralelamente, na Varig, o conselho de administração analisava a proposta da VarigLog, que também já começou a ser apresentada aos credores. Um representante sindical informou que a nova proposta prevê que parte do pagamento da dívida repactuada com o Aerus seria assumida.

Ainda assim, a proposta sofre críticas dos trabalhadores. Ontem, funcionários da empresa reuniram-se com a direção da VarigLog em São Paulo. Hoje, dirigentes da Volo Brasil, dona da VarigLog, vão a Brasília discutir o assunto com o governo, segundo sindicalistas.