Título: Para analistas, meta fiscal corre risco
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

De olho na forte expansão dos gastos públicos no início do ano, o mercado financeiro já põe em dúvida se o governo será capaz de cumprir a meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto em 2006. Nos últimos seis anos, o governo cumpriu as metas sempre com folga e em nenhum momento o mercado questionou se elas seriam atingidas. Agora, embora a maioria dos analistas ainda acredite que o governo cumprirá seu objetivo, já há quem aposte que o impensável pode ocorrer: o superávit primário ficará abaixo da meta.

Na avaliação do ex-diretor do Banco Central e atual diretor-executivo do Banco Itaú , Sérgio Werlang, o governo vai cumprir a meta, mas em algum momento durante o ano o superávit acumulado em 12 meses ficará abaixo dos 4,25%. "Isso não é nada bom. Atrasa muito a chegada do grau de investimento das agências de risco", disse Werlang, especialista em assuntos fiscais. Segundo ele, são preocupantes os sinais de expansão de gastos permanentes, como o reajuste do salário mínimo e o aumento das despesas com a Previdência e o bolsa família.

A diretora da agência de classificação de risco Standard & Poor's, Lisa Schineller, também acredita que o governo conseguirá cumprir seu objetivo, mas alerta que o próximo presidente terá de atacar a questão do gasto público, sobretudo a rigidez do Orçamento, que tem muitas vinculações.

A economista do Banco ABN Amro Zeina Latif considera pouco provável o descumprimento da meta deste ano, mas diz que já é ruim o tema ser motivo de preocupação. "É muito baixa a probabilidade de a meta não ser cumprida. O problema é que a questão fiscal não chamava a atenção, e agora está no radar do mercado, o que é ruim", afirmou.

Opinião semelhante tem o economista da Tendências Consultoria Guilherme Loureiro. Para ele, embora a chance de descumprir a meta deste ano seja remota, a preocupação maior é com o médio e longo prazos.

Apesar das dúvidas do mercado, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que a meta será cumprida. "Não tem o menor cabimento duvidar disso", afirmou. " O mercado às vezes procura um assunto para ficar nervoso".