Título: Governo zera dívida em bradies
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2006, Economia & Negócios, p. B8

Numa operação que vai pôr um ponto final em um difícil capítulo da história econômica do País, o governo vai recomprar hoje antecipadamente todos os títulos da dívida externa que ainda restam no mercado internacional com a marca da moratória brasileira da década de 80, os bradies.

Emitidos no processo de reestruturação da dívida externa de 1994, os bradies tinham vencimentos até 2024. Com a operação, o governo faz uma faxina na dívida e abre caminho para o Brasil receber das agências de classificação de risco o "grau de investimento" - o que permitirá ao País receber financiamentos mais baratos.

A maior parte dos recursos para o resgate dos papéis - US$ 5,8 bilhões - já saiu ontem das reservas internacionais para que o dinheiro esteja hoje na mão dos credores. O saldo dos bradies que será resgatado hoje é de US$ 6,64 bilhões. Mas, como a operação vai liberar US$ 1,5 bilhão em títulos do Tesouro dos Estados Unidos dados aos bancos em garantia pelo governo brasileiro, a necessidade de utilização das reservas internacionais será menor.

Como reflexo da operação, o estoque das reservas caiu ontem US$ 5,596 bilhões, de US$ 60,090 bilhões para US$ 54,494 bilhões. O Tesouro comprou o restante dos dólares no mercado. As garantias serão liberadas num prazo de 20 dias.

Os bradies têm esse nome por causa do secretário do Tesouro dos Estados Unidos na época, Nicholas Brady. Os papéis têm uma cláusula que permite ao Tesouro a recompra antecipada nas datas de pagamento de juros a cada ano, em 15 de abril e 15 de outubro, por 100% do valor de face. Como o dia 15 caiu no sábado e ontem o feriado da Páscoa continuou em vários países do mundo, a operação será concluída hoje, quando os números oficiais serão divulgados pelo secretário do Tesouro, Carlos Kawall.

O anúncio da recompra foi feito em fevereiro. Na data do anúncio e nos dias seguintes, o risco país despencou. O resgate antecipado dos bradies vai possibilitar uma economia de US$ 345 milhões em despesas com juros. A operação faz parte de um programa do Tesouro de recompra de títulos da dívida com vencimento até 2010, iniciado em janeiro, no qual os bradies foram incluídos. O objetivo do programa é melhorar o perfil da dívida para o Brasil receber mais rapidamente o "grau de investimento".

No ano passado, o Tesouro já havia retirado do mercado o C-Bond, um dos mais famosos e mais negociado bradie da dívida externa do Brasil. A expectativa do Tesouro é de que a retirada desses papéis trará um impacto positivo também nas emissões privadas das empresas brasileiras no exterior.

Como os bradies são papéis originários da moratória de1987, muitos fundos e seguradoras, por regras próprias, não podiam adquiri-los. A expectativa do mercado é que, com a operação de resgate, haja um fluxo de dinheiro novo dos investidores que hoje detêm os bradies para novos papéis da dívida brasileira. Por isso, cresceram os rumores de que o Tesouro poderá voltar em breve a fazer nova captação externa.

O secretário Carlos Kawall, já adiantou, semana passada, que o governo poderá fechar ainda este ano o cronograma de captações externas previsto para 2006 e 2007, que é de US$ 9 bilhões. Faltam US$ 3,7 bilhões em captações para o cronograma ser cumprido.