Título: 7 morrem na rebelião de Jundiaí
Autor: Camilla Rigi, Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Metrópole, p. C1,3

Cadeia fica destruída após 21 horas de confusão, que só acabou com chegada do Choque; os 5 reféns foram soltos

Foi preciso chamar a Tropa de Choque da Polícia Militar para que os presos da Cadeia Pública de Jundiaí soltassem os reféns e entregassem as armas. Terminava assim o motim que destruiu o prédio e deixou sete presos mortos e cinco feridos - dois reféns e três detentos.

Os policiais saídos de São Paulo chegaram às 10 horas. Mães e mulheres de presos avisaram por telefone os detentos dos preparativos da invasão. Algumas se desesperaram e outras se ajoelharam diante dos PMs. Em minutos, tudo acabou. "Quando o diálogo falha, é preciso da força para se restabelecer a autoridade", disse o delegado Joaquim Dias Alves, da Seccional de Jundiaí.

Foram 21 horas de revolta, iniciada às 14h30 de anteontem. Segundo a polícia, os presos morreram asfixiados pela fumaça da queima de colchões. "Eles estavam no seguro e, provavelmente, ficaram com medo de sair da cela e serem mortos", contou o delegado Sidney Juarez Alonso. A cela do seguro tem 16 m2 e uma saída para uma galeria. Nela havia 29 homens.

A rebelião começou quando os presos dominaram um carcereiro. Estavam com 2 pistolas calibre 6,35 mm. Depois, pegaram mais 2 carcereiros (um homem e uma mulher) e 2 investigadoras - tiraram a arma de uma delas. Queriam fugir pela porta da frente, mas houve tiroteio com a polícia. Voltaram às celas, atearam fogo em colchões e quebraram grades e paredes.

TENSÃO

Durante as negociações, os amotinados soltaram as 3 mulheres reféns - ficaram com os 2 homens até o fim. Os presos cavaram um túnel e só não fugiram porque a saída dava no pátio de uma delegacia nos fundos da cadeia. Era tanta tensão que o delegado Paulo Sérgio Martins, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), emocionou-se e chorou. "Eram cinco meninos meus lá dentro. Policial não é super-herói."

Pelo telefone, um detento identificado como João disse que o motivo do motim era a superlotação. "O que a gente quer é que os presos condenados não fiquem aqui." A cadeia, de 120 vagas, tinha 484 presos, dos quais 202 já condenados. A Secretaria da Segurança mandou transferir cem desses detentos.

Metade do prédio foi interditada para reforma. "A situação é caótica", disse o deputado Ítalo Cardoso (PT), da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativo. Adolescentes estão misturados a adultos, pois a cela separada em que ficavam 19 jovens foi destruída.

A Febem aguarda uma ordem judicial para receber os adolescentes de Jundiaí. A Secretaria da Segurança informou que vai investigar as mortes e como as armas entraram na prisão. Para fechar a cadeia, o governo está construindo um Centro de Detenção Provisória, mas a obra foi embargada pela Justiça por razões ambientais.