Título: Infraero não viu falha em Congonhas
Autor: Juliano Machado, Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Metrópole, p. C4

Medição ocorreu depois de pilotos denunciarem problemas no pouso

Desde janeiro, pilotos de várias empresas aéreas vinham alertando superiores sobre problemas com a pista do Aeroporto de Congonhas, onde um avião da BRA derrapou anteontem ao aterrissar debaixo de chuva e quase caiu na Avenida Washington Luís. "Se queixaram de que ela ficou escorregadia, após o recapeamento do fim de 2005", disse o coordenador da Comissão de Segurança de Vôo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins.

O problema foi levado à Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero). "A Infraero mediu o coeficiente de atrito na pista com o aparelho mu-meter e informou, no dia 15 de março, que o resultado estava dentro dos parâmetros", afirmou Jenkins. Segundo ele, o equipamento joga uma película de água no asfalto para fazer a medição do atrito.

Anteontem, um piloto, que pediu para não ser identificado, disse que o risco continuava e no recapeamento não foram feitos cortes transversais no asfalto (grooving), que ajudam a escoar a água. A BRA culpou o estado da pista pelo acidente.

A Infraero informou ontem que, durante o pouso do avião da BRA, "a pista de Congonhas estava em perfeitas condições, mesmo debaixo do temporal, e segue todas as normas". O Departamento de Aviação Civil (DAC) vai investigar as condições de drenagem no local.

O diretor de Segurança do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho, elogiou a manobra do piloto da BRA e disse que pistas com menos de 2 mil metros - a principal de Congonhas tem 1.949 m - são consideradas críticas. "Sou contra pousos e decolagens com chuva intensa ali." Ele afirmou que a pista não tem problemas de drenagem, mas sugeriu que a grama ao redor seja trocada por uma caixa de concreto poroso, para conter o avanço dos aviões. "A pista é muito próxima dos locais de embarque e de circulação de aviões."

Camacho disse que o sindicato tem recebido queixas contra a BRA. "Entregamos representação no Ministério Público por causa de problemas como excesso de trabalho." A BRA informou que o piloto cumpriu a jornada habitual de 11 horas anteontem.