Título: Venda da Brasil Ferrovias está ameaçada
Autor: Agnaldo Brito, Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Economia & Negócios, p. B11

Depois de a MRS desistir da compra, Funcef diz que 'não há obrigação de vender ativos agora'

A decisão da MRS Logística de abandonar a disputa pela Nova Brasil Ferrovias (BF), companhia que agrega os ativos de bitola larga que interligam o Centro-Oeste brasileiro ao Porto de Santos, pode abortar o processo de venda da companhia. Segundo Demosthenes Marques, diretor do fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef), a decisão de n ão vender ainda é uma opção, especialmente se o preço oferecido não satisfizer os acionistas. "Não há qualquer obrigação de vender os ativos agora. Só achamos que o momento é positivo", disse.

A América Latina Logística (ALL) foi a única empresa que entregou propostas, tanto para a Nova Brasil Ferrovias quanto para a Novoeste Brasil. Em nota, a MRS afirmou que a desistência foi uma decisão dos controladores da empresa e que o "acordo de confidencialidade" impedia a empresa de expor as razões por não ter apresentado proposta pela BF. O mercado aponta duas razões: alto endividamento da Ferronorte ou a decisão dos acionistas da MRS de manterem foco em minério.

Mas, no mercado, outras justificativas começam a ser levantadas. Uma delas, segundo fontes ligadas à ferrovia, é a de que ALL e MRS teriam feito um acordo "de gaveta" para apenas uma empresa disputar a companhia, o que elevaria o poder de negociação da ALL e reduziria o preço da BF. No futuro, outra negociação poderia ser feita entre as duas. Segundo essa mesma fonte, às vésperas da entrega da proposta, a ALL teria se reunido com um grupo coreano (Asila) e pedido a desistência no negócio em troca de garantias no transporte até o Porto de Paranaguá. A intenção do grupo estrangeiro, porém, seria usar a ferrovia para atingir o Oceano Pacífico.

A análise das propostas (que incluem as outras três apresentadas para a Novoeste) poderá ser concluída este mês, segundo o diretor da Funcef. "Achamos que seja possível ainda em março definir quais empresas podem partir para a próxima fase do processo de venda", diz. A próxima etapa é a auditoria interna nas companhias.

As maiores chances de isso ocorrer estão na Novoeste. Além da ALL, disputam a Empresa Ferroviária Oriental - ferrovia boliviana controlada pelo grupo americano Genesee & Wyoming, a Asian Latin American Marketing Center (Asila) - trading que representa sete empresas coreanas, e a a chinesa Jianscsu Zhongye Steel Company, esta segundo a Revista Ferroviária.

Marques disse que as propostas podem ser alteradas, mesmo depois da apresentação. Negou que os fundos tenham o interesse em admitir concorrentes depois do prazo, mas afirmou que mudanças que tornem as propostas "mais interessantes" não são descartadas. Isso indicaria a permissão de combinações entre as empresas que lideram as ofertas com outras que possam fazer associações.

Essa condição do modelo negocial adotado pelos fundos de pensão poderá alterar muito as propostas apresentadas anteontem.

A razão desta tentativa é a necessidade de os fundos reduzirem as perdas. Os diretores dessas instituições falam em atenuar os prejuízos na Nova Brasil Ferrovias e na Novoeste Brasil. Desde a privatização, a Funcef e o fundo dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) injetaram mais de R$ 1 bilhão na companhia.

O mercado não acredita que os fundos vão entregar a empresa a preço de banana.