Título: Estatal defende uso exclusivo de álcool anidro
Autor: Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Economia & Negócios, p. B10

A produção exclusiva do álcool anidro, tanto para a mistura à gasolina como para o abastecimento dos carros flex fuel, e o fim do uso do hidratado foram defendidos pelo gerente de Álcool e Oxigenados da Petrobrás, Silas Oliva Filho, e por usineiros que participam do seminário "Cenários da Safra Canavieira 2006/2007", ontem, em Ribeirão Preto.

O assunto surgiu por acaso, mas centralizou as discussões do painel sobre a competitividade do combustível na matriz energética brasileira. De acordo Oliva Filho, a produção exclusiva de anidro no Brasil padronizaria a estrutura logística para o etanol, facilitaria as negociações do combustível no exterior e ainda ampliaria os negócios feitos na bolsa.

Atualmente, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) negocia apenas contratos de álcool anidro e deixa de fora ao menos a metade da produção do combustível do Brasil, ou cerca de 8,5 bilhões de litros. "É uma sugestão que, principalmente, seria uma grande forma de agregar valor ao produto e facilitaria torná-lo uma commodity mundial", explicou o gerente da Petrobrás. "Além disso, os custos de transporte seriam menores, já que hoje as distribuidoras pagam para transportar a água (que representa 7% do álcool hidratado)."

O usineiro e conselheiro da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Maurílio Biagi Filho, afirmou que a unificação da produção no álcool anidro reduziria a zero a adulteração e seria o ponto de partida para um novo ciclo do combustível. "Seria até interessante que déssemos um novo nome para esse álcool."

SONHO REALIZADO

Apesar de o álcool anidro custar cerca de 10% mais do que o hidratado durante o período da safra, o consumidor não seria penalizado porque os veículos que passassem a utilizar anidro puro também gastariam menos combustível. O gerente de Desenvolvimentos de Produto da Unidade de Sistemas de Gasolina da Bosch, Fábio Ferreira, classificou a idéia como "um sonho de toda a indústria automotiva".

Segundo ele, a água dá ao álcool hidratado maior condutividade e maior poder de corrosão na parte mecânica do motor. Ainda de acordo com Ferreira, o uso de anidro puro não traria problemas mecânicos em veículos antigos movidos exclusivamente a álcool hidratado. "Nos que possuem sistema de injeção eletrônica a regulagem automática; já nos veículos carburados poderia haver apenas um gasto maior já que a mistura do combustível seria mais rica", salientou. "Mas esse problema seria resolvido com uma simples regulagem."