Título: 'É hora da verdade para Rodada Doha'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Bases para negociação têm de estar prontas em 40 dias, diz Lamy

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, alertou ontem que as negociações da Rodada Doha estão diante do "momento da verdade". Em discurso no comitê para o comércio internacional do Parlamento Europeu, ele lembrou que o prazo limite para acertar as bases de um acordo multilateral para os produtos agrícolas e bens industriais - 30 de abril próximo - está se aproximando, mas o impasse nas negociações continua. "A possibilidade de fechar um acordo será decidida nos próximos 40 dias", disse Lamy. "Estamos apenas quarenta dias distantes da data limite e todos nós sabemos o que precisamos fazer para levar essas negociações adiante."

Ao fazer um balanço do estágio atual das negociações, Lamy disse estar consciente de que se não houver um acordo dentro do prazo, a liberalização do comércio "seria impossível de ser atingida no futuro próximo". Os maiores perdedores com um fracasso, acrescentou, seriam os países em desenvolvimento e pobres, além da própria OMC.

Segundo Lamy, para que esses prazos sejam respeitados, todos os países envolvidos nas negociações terão que demonstrar flexibilidade. "Embora a agricultura tenha sido colocada como elemento principal, a rodada não é só um movimento unilateral e progressos precisam acontecer em todas as frentes", disse. "Para desbloquear a agricultura, os Estados Unidos precisam alterar seu apoio doméstico e a União Européia, o acesso a seu mercado. Índia, Brasil e outros países em desenvolvimento precisam mostrar maior flexibilidade para os bens industriais."

O chefe da OMC salientou que as negociações para o setor de serviços precisam continuar a progredir. Lamy ressaltou a importância que os países em desenvolvimento atribuem à questão do movimento temporário de profissionais para a provisão de serviços. "Isso é uma prioridade para muitos países, um tema que a Europa terá de responder nas próximas semanas."