Título: Desemprego no País surpreende e bate em 10,1%
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Economia & Negócios, p. B3

Índice apurado pelo IBGE em fevereiro foi pressionado pelo aumento do número de pessoas à procura de vaga

O índice de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do País cresceu para 10,1% da população economicamente ativa em fevereiro, ante 9,2% em janeiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A demissão de trabalhadores temporários contratados no fim de 2005 e o aumento da procura por emprego pressionaram o índice, mas não evitaram a continuidade da recuperação do rendimento dos ocupados. Em fevereiro, o rendimento médio real nas seis regiões subiu para R$ 999,80, um acréscimo de 1% ante janeiro e de 2,5% ante fevereiro de 2005.

Para Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, a elevação do desemprego era esperada, mas não tanto. Os analistas esperavam taxa abaixo de 10%. A trajetória de alta deve prosseguir em março porque o primeiro trimestre é, tradicionalmente, de aumento do desemprego.

Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também considerou o índice acima do esperado, mas "tudo indica que essa elevação é sazonal". Para ele, "um aumento do desemprego nunca é notícia boa, mas não deve ser permanente". "No segundo trimestre, deveremos voltar a um índice menor."

O analista da Tendências, Guilherme Maia, observou que os dados do mercado de trabalho em fevereiro confirmaram as expectativas de recuperação da renda e do ritmo lento no aumento da ocupação. Segundo ele, a taxa surpreendeu negativamente por causa do forte crescimento do número de pessoas à procura de trabalho.

Para Azeredo, do IBGE, o dado preocupante de fevereiro é que o aumento foi maior do que historicamente ocorre na comparação com janeiro.

Ainda que seja a menor taxa para um mês de fevereiro - em igual mês do ano passado foi de 10,6% -, desde o início da nova série da pesquisa, em março de 2002, o índice de fevereiro apresentou uma elevação de 0,9 ponto porcentual em relação a janeiro, um recorde de aumento na série da pesquisa para o período (de janeiro para fevereiro). Além disso, foi a maior taxa desde maio do ano passado.

Azeredo observou também que fevereiro foi "praticamente morto" na abertura de novas vagas, já que houve queda de 0,4% - dado que o IBGE considera estabilidade - no número de ocupados ante o mês anterior. O total de ocupados nas seis regiões ficou em 19,92 milhões de pessoas, com aumento de 2,5% ante igual mês de 2005.

O número de desocupados, por outro lado, cresceu muito mais e elevou a população de desempregados nas seis regiões para 2,23 milhões em fevereiro, com aumento de 9,5% ante janeiro. Isso ocorreu porque mais pessoas procuraram trabalho no mês. O indicador manteve, entretanto, a tendência de queda, de 3,6%, ante igual mês do ano anterior.

Azeredo salientou também que "desde o segundo semestre do ano passado não se assiste à criação significativa de postos de trabalho". Ele avalia que os dados de fevereiro são "um momento de alerta, como sempre ocorre no primeiro trimestre do ano" para esse mercado.

SÃO PAULO

A pesquisa do IBGE mostrou também que o índice de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo subiu para 10,5% em fevereiro, ante 9,2% em janeiro. Segundo Azeredo, o desempenho do mercado de trabalho paulista puxou para cima a taxa de desemprego na média das seis regiões metropolitanas pesquisadas, mas garantiu também a elevação, na média da pesquisa, do rendimento real dos trabalhadores.

Em São Paulo, a renda média cresceu 3,3% em fevereiro, ante janeiro, porcentual bem acima da média das seis regiões (1,1%), e chegou a R$ 1.155,50 em fevereiro, ante R$ 999,80 na média da pesquisa.