Título: Ministro acusa europeus de blefe e defende a TV digital do Japão
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Ministro tem pressa, pois precisa decidir até o fim do mês se deixa a pasta para concorrer ao governo de Minas

Esquenta a briga pela TV digital. Assim como as emissoras, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, tem pressa em decidir sobre o padrão. Ele precisa definir, semana que vem, se concorre ao governo de Minas Gerais ou continua à frente da pasta. Enquanto o governo negocia vantagens com o Japão, a Europa e, em menor grau, os Estados Unidos, o ministro bate nos europeus e elogia os japoneses, cujo padrão ISDB é o preferido das redes de televisão.

Ontem, ele chamou de "balela" e de "blefe" o argumento usado pelo comissário Peter Mandelson de que o Brasil seria condenado ao "isolamento internacional" caso adotasse o padrão japonês de TV digital: "Isso é uma balela, um blefe. É abusar da inteligência dos brasileiros".

Costa informou que uma comitiva de ministros, incluindo ele, Dilma Rousseff (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), fará uma viagem ao Japão e à Coréia do Sul para negociar a instalação no Brasil de fábricas de semicondutores e de televisores com tela de cristal líquido. A viagem deverá ocorrer na próxima semana ou na primeira semana de abril, e os encontros serão com representantes dos governos e de indústrias. Os coreanos da LG são donos de patentes do padrão americano ATSC.

No Japão, as conversas serão com executivos da Toshiba, Sony, Panasonic e NEC, e na Coréia com dirigentes da Samsung. Antes da viagem, na terça-feira, o ministro se reúne com o presidente Lula para tratar do assunto, que vem sendo discutido no processo de escolha do padrão de TV digital a ser adotado no País. Segundo Costa, essa decisão depende exclusivamente do presidente e pode ser tomada nas "próximas horas" ou nos "próximos dias".

Dessa forma, o governo dá sinais contraditórios sobre o processo de decisão. Enquanto outros ministros negociam vantagens para o País, o responsável pelas Comunicações dá a decisão como praticamente tomada.

O ministro disse que deve ir ao Japão mesmo se decidir deixar o ministério para se candidatar: "Eu não abro mão da viagem ao Japão". Ele desconversou quando foi questionado se a viagem poderia significar que o Brasil já fez sua escolha pelo padrão japonês, mas fez questão de afirmar que o Japão está "perfeitamente sintonizado" com a preocupação brasileira.

Apesar de continuar negociando a implantação de uma indústria de semicondutores, Costa deu a entender que a escolha do padrão de TV digital estaria desvinculada da negociação. "Nós não estamos mais fazendo um condicionamento de que podemos esperar a implantação de uma fábrica, que leva dois ou três anos, para decidirmos sobre a TV digital. Só queremos que os governos que estão envolvidos com os sistemas apresentados nos dêem sinais de que estariam participando desse esforço do governo brasileiro de sair dessa situação de apenas montador e importador de semicondutores."

Costa fez uma nova estimativa de custo para a construção de uma fábrica dessas. Segundo ele, seriam necessários de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões, e não os US$ 2,5 bilhões previstos anteriormente. De acordo com o ministro, o que o Brasil precisa são pequenas fábricas de semicondutores, que ele chamou de "chips dedicados", que podem ser usados não só em televisores, mas em aparelhos como DVDs e eletrodomésticos.