Título: Zapatero exige garantias
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Internacional, p. A15

Conversações entre governo e ETA só com o abandono da violência

O governo espera obter sinais inequívocos da ETA (Pátria Basca e Liberdade) de que abandonou definitiva e permanentemente a violência antes de iniciar um eventual diálogo com dirigentes do grupo, destacou ontem o ministro das Comunicações, Fernando Moraleda. Ele falou em nome do primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero.

Já os ministros do Interior, José Antonio Alonso, e da Administração Pública, Jordi Sevilla, pediram "unidade e tranqüilidade" aos políticos e cidadãos. Por sua vez, o ministro da Defesa, José Bono, avisou que "não haverá atalhos legais" para os extremistas. E advertiu: Nem o CNI (serviço de inteligência), nem a Guarda Civil e nem a Polícia estão em trégua."

Um dia após o lançamento do comunicado da organização separatista basca anunciando um cessar-fogo unilateral e permanente, o líder da oposição conservadora, Mariano Rajoy, mostrou-se disposto a apoiar Zapatero num processo de paz. Rajoy era radicalmente contrário a conversações com a ETA, que classifica de "organização terrorista". Ele chegou a liderar no ano passado uma marcha contrária ao diálogo que reuniu 200 mil pessoas na capital espanhola. Analistas explicam a guinada de Razoy como estratégia para não "perder o bonde da história".

Pela manhã, Zapatero despachou em caráter extraordinário com o rei Juan Carlos para avaliar a situação e também as reações provocadas pelo anúncio no Parlamento espanhol, antes de viajar a Bruxelas a fim de participar da reunião Conselho Europeu.

No dia anterior, o primeiro-ministro havia debatido a decisão da ETA no Parlamento, ouvindo a opinião de diversos líderes partidários. E pedira apoio ao Partido Popular, de Rajoy, o principal de oposição na instauração de um eventual processo de paz. Mas ele advertira, igualmente, que a disposição do grupo extremista basco deveria ser recebida com "muita prudência e responsabilidade".

Os partidos bascos, incluindo os nacionalistas, concordaram num aspecto: a duração das negociações políticas para a paz, abertas pela ETA, uma vez efetivamente instauradas, serão prolongadas e complexas. Eles acreditam mesmo que o desfecho do processo não ocorrerá neste governo.

Por sua vez, dirigentes do proscrito partido Batasuna (braço político da ETA) deixaram claro ontem que "não haverá paz e uma resolução definitiva do conflito basco sem a participação da França no processo". Eles se referiam às províncias bascas localizadas em território francês. "Os governos da Espanha e da França precisam pôr fim às medidas repressivas", disse Xabi Larralde, porta-voz do Batasuna.