Título: Tilápia: exportação estimula criação
Autor: Beth Melo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2006, Agrícola, p. G6

O crescimento das exportações de filés de tilápia tem incentivado a instalação de unidades de processamento do peixe no País e, conseqüentemente, a multiplicação de criatórios para atender a essa demanda. Este ano, o embarque de filés frescos de tilápias para os Estados Unidos, o maior importador do produto brasileiro, e para o Canadá deve alcançar 2.100 toneladas, com faturamento próximo a US$ 15 milhões. No ano passado, cerca de mil toneladas exportadas renderam US$ 6,6 milhões.

Das sete indústrias associadas à Associação Brasileira da Indústria de Processamento de Tilápias (AB-Tilápia), cinco já exportam, segundo o presidente da associação, Tito Livio Capobianco Junior. Ele diz que há planos para a montagem de novas plantas, que aguardam, porém, um cenário cambial mais favorável. "A demanda é grande, mas a margem de lucro está apertada, por causa do dólar baixo", diz.

CRESCIMENTO

Os EUA recebem o produto brasileiro via aérea. O Brasil exporta também para a Europa, mas em pequena quantidade. Para ter-se idéia do crescimento da demanda americana, em 2002, quando o País iniciou as exportações, enviou 100 toneladas, o equivalente a US$ 654 mil. Em 2003, foram 199 toneladas e US$ 1,24 milhão, e, em 2004, 303 toneladas e US$ 2 milhões. "Conseguimos atingir a qualidade que eles exigem; o mercado é enorme", diz Capobianco.

O Brasil é o quarto maior exportador de filés frescos desse peixe para os EUA. O primeiro é o Equador, seguido por Honduras e Costa Rica. Considerando o mercado informal, a AB-Tilápia estima que o País produziu 130 mil toneladas de tilápia em 2005. Conforme Capobianco, embora a demanda ainda seja pequena, o consumidor brasileiro também está descobrindo a tilápia, cujo quilo do produto padrão exportação, sem espinhos, varia de R$ 15 a R$ 20.

APELO DE CRIAÇÃO

O apelo das exportações tem atraído novos criadores, sejam integrados às unidades de pescados ou por meio de associações, como a Associação dos Produtores de Organismos Aquáticos de Ilha Solteira (Aproaqua), com 27 associados. Uma região com grande potencial para piscicultura, por causa da temperatura e da qualidade da água, às margens do Rio Paraná, foi o lugar escolhido para o criadouro de tilápias da Aproaqua, todo instalado no sistema de tanques-rede. "A água e o sistema garantem um peixe sem gosto de barro", diz o piscicultor João José Cattânio, presidente da associação, que teve a idéia de criar a entidade.

MAIS TANQUES

Em 2005, a Aproaqua investiu R$ 450 mil e instalou 100 tanques-rede de 18 metros cúbicos cada e capacidade para 2.500 peixes na fase final - o que dá, por tanque, uma produção de 2.100 quilos. Os tanques são dimensionados para produzir 300 toneladas de tilápias ao ano. Segundo Cattânio, os associados investiram entre R$ 1.500 e R$ 26 mil no projeto.

O negócio deu tão certo que a associação planeja duplicar a produção ainda este ano. "A estrutura já está pronta; falta instalar mais cem tanques-rede", diz Cattânio. "A idéia é produzir 600 toneladas/ano."

O diretor do Departamento do Agronegócio Pesca e Meio da Prefeitura de Ilha Solteira, João de Oliveira Machado, confirma que a criação de tilápia tem crescido na região. Além da Aproaqua, há a Pisces - associação com primeira coleta prevista para este semestre - e um empresário, que se dedica à criação sozinho e montou um pequeno frigorífico. "A atividade é promissora", diz Machado.

De acordo com o diretor, há mais grupos querendo entrar na atividade. Aguardam, porém, a formação de um parque aqüícola, que demarcará novas áreas permitidas para a piscicultura. Ele diz que o governo federal, por meio da Secretaria de Aqüicultura e Pesca, investiu R$ 1 milhão no levantamento, que está sendo feito pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Ilha Solteira, para criar o parque aqüícola.