Título: Violência está se alastrando para subúrbios
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Internacional, p. A12

Incidentes perto de Paris causam temor de crise como a de novembro

As manifestações estudantis de rua prosseguiam ontem em Paris e outras cidades da França, seguidas de atos de violência praticados por jovens anarquistas que se infiltram nos protestos contra o Contrato Primeiro Emprego (CPE).

Esses atos de violência começam a se multiplicar perigosamente nas cidades satélites da capital e podem se alastrar muito rapidamente, repetindo a crise de novembro - quando jovens franceses, de ascendência norte-africana, que se dizem discriminados, provocaram grandes distúrbios.

Ontem, os chamados "casseurs" (quebradores) voltaram a tirar proveito de uma nova manifestação, que reuniu 50 mil estudantes (23 mil segundo a polícia), para provocar novos incidentes com a tropa de choque - 3 mil homens espalhados em pontos nevrálgicos da capital, mas insuficientes para impedir a quebradeira.

Os estudantes universitários e secundaristas deixaram a Place D'Italie em direção aos Invalides, uma ampla esplanada, onde aparentemente seria mais fácil fazer uma triagem entre os estudantes e os jovens dispostos a entrar em choque com a polícia. Mas antes de a marcha chegar à esplanada, os choques já haviam se multiplicado com os mesmos resultados de dias anteriores: uma dezena de veículos incendiados, vitrines de lojas quebradas, restaurantes e bares destruídos, etc.

Um manifestante de 21 anos ficou gravemente ferido durante os distúrbios em Paris. Fontes do hospital Georges Pompidou, para onde ele foi levado pelos bombeiros, disseram que o jovem sofreu um "traumatismo craniano". Segundo as primeiras informações, o ferimento na cabeça não foi provocado no confronto com a polícia.

Também em numerosas cidades do interior francês, como por exemplo em Rennes, Marselha e Lyon, as manifestações tornaram-se violentas, obrigando a polícia a intervir.

Em Savigny sur Orge, na região parisiense, e Saint Denis, subúrbio às portas de Paris, as manifestações também terminaram com distúrbios, levando as autoridades a temer que esse novo fluxo de violência possa contaminar novamente a região parisiense.

Nas manifestações desses últimos dias, a polícia pôde identificar jovens que participaram dos protestos do ano passado.

Nas ações de vandalismo muitas vezes eles pilham lojas e chegam mesmo a agir contra os estudantes, levando seus relógios, rádios, celulares e mochilas.

As atenções estão concentradas em Paris, mas nos subúrbios também houve aumento da violência, levando o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, a chamar atenção para "o perigo que essa efervescência estudantil representa".

Segundo Sarkozy, o movimento pode "relançar a agitação nos subúrbios, onde o clima permanece fortemente tenso".