Título: Câmara ouve Bastos amanhã sobre violação
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2006, Nacional, p. A6

Uma articulação política do governo permitiu um cenário mais sereno para o depoimento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no Congresso. Depois de uma semana de polêmica sobre o local da presença do ministro, ficou acertado que Bastos vai falar amanhã na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde o governo e seus aliados esperam encerrar as explicações do ministro em torno da suspeita de que ele teria ajudado o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci na tentativa de encobrir o episódio da violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.

O que estava inicialmente previsto era um depoimento no plenário da Câmara. No entanto, o governo temia perder o controle da situação e dar palanque para a oposição fazer discursos contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, com o pretexto de que formalmente o requerimento de convocação do ministro no plenário ainda não tinha sido votado, optou-se pelo depoimento na comissão.

O presidente da CCJ, deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), anunciou que o próprio Bastos havia se oferecido para ir à comissão. "Ele tem o compromisso de comparecer", afirmou Sigmaringa, relatando que havia conversado anteriormente com o ministro da Justiça.

Antes de anunciar o depoimento de Bastos, Sigmaringa consultou os deputados de oposição e governistas. "O clima será diferente, com mais racionalidade", afirmou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), apoiando o depoimento na comissão. "O importante é ele vir para não delongar mais", afirmou ACM Neto. "Para quem quer resultado, aqui é melhor. Para quem quer oba-oba, o plenário é melhor."

Na CCJ, o ministro irá como convidado e seguirá as regras de uma audiência pública. Os 61 deputados titulares da comissão terão preferência em questioná-lo. Depois, serão os suplentes e a seguir os deputados que não fazem parte da CCJ. Os líderes partidários também podem falar a qualquer momento da audiência.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse que o depoimento do ministro não pode se transformar em um "espetáculo" e considerou que Bastos deixará claro que, no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro, agiu "no estrito cumprimento" de sua função ministerial.

"Não é conveniente que nós tenhamos, digamos, um espetáculo, mas uma sessão que possa esclarecer de forma taxativa o que aconteceu e qual foi a atuação do ministro Márcio Thomaz Bastos", afirmou Berzoini.

Bastos foi quem recomendou o criminalista Arnaldo Malheiros para ajudar Palocci a se defender da acusação de comandar a operação para abrir os dados bancários de Nildo. Pelo menos um de seus assessores esteve com Palocci após a violação do sigilo.