Título: CPI é desafiada por amigo do presidente e pode usar polícia
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2006, Nacional, p. A7

O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), ameaçou ontem pedir ajuda à Polícia Federal para levar o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à CPI. Efraim anunciou que provavelmente na próxima semana o amigo de Lula será reconvocado pela comissão e, se "continuar desrespeitando a CPI, será trazido a depor com a ajuda da Polícia Federal".

Depois de criar uma série de dificuldades para ser localizado, Teixeira foi intimado a depor na segunda-feira. Mas, menos de uma hora depois, seu advogado encaminhou um documento à CPI afirmando que ele não compareceria devido a problemas de saúde e porque achava que suas atividades não se enquadravam no rol de investigações da comissão.

Para o senador, as premissas da defesa de Teixeira são falsas, uma vez que ele é suspeito de financiar o PT, a exemplo do que ocorre com empresários de bingo que também estão sendo investigados. Ele lembrou que Teixeira foi acusado pelo economista Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de Finanças das prefeituras petistas de Campinas e São José dos Campos, de ter vinculação com a Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM), que é suspeita de firmar contratos sem licitação com prefeituras para obter vantagens.

CARAVANA

No depoimento à CPI, Venceslau disse ter ouvido, nos anos 80, o então tesoureiro de campanha de Lula, Paulo Okamoto, hoje presidente do Sebrae, afirmar que a CPEM custeava a segunda Caravana da Cidadania (o programa de viagens de Lula pelo País). Advogado, entre outros, do ex-dono da Transbrasil, Antônio Cipriani, Teixeira é, de longa data, amigo do presidente, padrinho do seu filho caçula, Luís Cláudio, e dono da casa onde Lula morou de graça por mais de dez anos.

O presidente da CPI dos Bingos foi duro com Teixeira: "A CPI não vai aceitar que a vontade de quem quer que seja tenha prioridade sobre a lei que regula o seu funcionamento." Efraim deixou claro que não acreditou nas alegações de Teixeira: "Ele está trabalhando normalmente, tem viajado. Se continuar nessa linha, não haverá outra saída para a Comissão, senão recorrer à Polícia Federal para que ele atenda a convocação", afirmou.

Segundo ele, a outra prioridade da CPI é ouvir Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal. Efraim disse que Mattoso "não falou a verdade sobre o contrato da instituição com a multinacional Gtech" quando depôs à CPI, no fim do ano passado, e que ele desrespeitou a comissão de senadores que foi pedir-lhe ajuda para apurar a violação da conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

Ainda segundo Efraim, governistas e oposicionistas tentarão acordo para definir quais são as convocações prioritárias, de forma que a CPI possa encerrar seus trabalhos no fim de maio, e não no prazo inicialmente previsto, 24 de junho, em plena Copa do Mundo de futebol.