Título: Câmara deve livrar todos os demais mensaleiros
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Nacional, p. A8

Clima esfriou no plenário e para os 4 casos restantes tendência é de pizza

Depois da absolvição de mais dois deputados acusados de participar do chamado esquema do mensalão, parlamentares governistas e de oposição já admitem que mais ninguém deve ser cassado por conta das denúncias. Na noite de quarta-feira, os deputados Wanderval Santos (PL-SP) e João Magno (PT-MG) foram absolvidos, elevando para sete o número de parlamentares envolvidos no escândalo que acabaram mantendo seus mandatos na votação do plenário da Câmara.

"O governo mobiliza sua máquina para absolver seus aliados e o clima de investigação do mensalão já esfriou", reconheceu o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). "Não dá para negar que o clima de investigação hoje está com foco muito maior sobre o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Se as votações continuarem nesse clima, acho que pode não haver mais nenhuma punição", reforçou o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

A Câmara cassou, até agora, apenas três parlamentares: José Dirceu (PT-SP) , Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE). Outros quatro renunciaram para escapar da punição: Valdemar Costa Netto (PL-SP), Bispo Rodrigues (PL-RJ), José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA).

Mas sete dos acusados pela CPI já salvaram seu mandato graças ao voto: Sandro Mabel (PL-GO), Romeu Queiroz (PTB-MG), Pedro Henry (PP-MS), Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Wanderval e João Magno.

Ainda estão na fila de julgamento os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), Vadão Gomes (PP-SP) e José Janene (PP-PR). Este último, afastado dos trabalhos da Câmara há vários meses, alega problemas de saúde e por conta disso seu futuro está indefinido. "Do jeito que está, não sei o que prever para essas votações", diz Maia.

O presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), atribuiu ao baixo quórum da sessão de quarta-feira a absolvição de Wanderval e João Magno. Para Izar, se não houvesse tantos parlamentares ausentes da votação, eles poderiam ter sido cassados. Na votação de Wanderval, estavam fora 69 dos 513 deputados. Na de João Magno, o número foi maior ainda: 87 ausentes.

"O grande culpado pelo resultado de ontem foi a falta de quórum. A ausência desses deputados foi um claro voto deles pela absolvição dos acusados", disse Izar. "Com esse quórum baixo, não dá para cassar ninguém. Por isso, tentamos adiar a segunda votação e não conseguimos", concordou o pefelista Rodrigo Maia, cuja bancada teve elevado número de ausentes.

O presidente do Conselho de Ética acha impossível saber o que vai acontecer no julgamento dos quatro parlamentares acusados pela CPI dos Correios que ainda não tiveram seus casos analisados pelo plenário.

"Gostaria que o plenário da Câmara mantivesse a tradição de acompanhar as votações feitas pelo Conselho de Ética, mas isso não está acontecendo. Então, não sei o que poderá acontecer nos próximos casos", afirmou Izar. "Talvez o caso do deputado João Paulo Cunha, que é mais emblemático por ele ter sido presidente da Câmara, sinalize o que ocorrerá com os outros."

Publicamente, apenas um partido, o PPS, decidiu se manifestar contra a absolvição de mais dois acusados. "Foi um acinte que desmereceu a indignação da sociedade brasileira com a pizza que vem sendo servida a cada nova sessão de julgamento dos processos de cassação no plenário da Câmara. Este espaço, aliás, tornou-se, na noite desta quarta-feira, um salão de baile, onde, literalmente, dançavam (leia texto nesta página) aqueles que se regozijaram com a impunidade."