Título: Lula frustra aliados do ministro e deixa de defendê-lo em discurso
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Nacional, p. A6

Presidente preferiu se queixar da demora na aprovação do orçamento

Tânia Monteiro Lígia Formenti BRASÍLIA

Em vez de um discurso veemente em defesa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, como assessores do Planalto chegaram a divulgar que ocorreria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu aproveitar sua fala para os integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ontem, para se queixar da demora do Congresso em aprovar o orçamento.

Além disso, Lula reagiu à comparação apresentada em carta, por uma das conselheiras, entre o Brasil e o Haiti. "É no mínimo uma heresia porque em nenhuma hipótese a gente pode comparar as duas nações", sustentou. "Poderia comparar o crescimento do Brasil com muitos países, com os Estados Unidos, China, mas nunca comparar do ponto de vista econômico, com debate político, com o Haiti."

Embora estivesse no Palácio do Planalto, Palocci não compareceu à cerimônia. Na reunião de 25 de agosto, apesar de o ministro não estar sob fogo cruzado, como agora, Lula criticou o Ministério Público de São Paulo ao citar que os procuradores, mesmo sem concluir as investigações, fizeram "um carnaval", acusando Palocci e colocando em risco todo o trabalho do governo para garantir que a economia não corra perigo.

Ontem, num longo discurso de 40 minutos, Lula deixou de lado as questões econômicas. Preferiu falar de educação e responder às acusações de que os recursos dos programas sociais não estão chegando a todos os destinatários. "Estamos investindo R$ 22 bilhões em programas sociais este ano. E, se Deus quiser, será uma política tão perene que nenhum governo, daqui a dois ou 30 anos, terá coragem de mudar, só terá que aperfeiçoar, porque isso não é assistencialismo."

Ao reclamar do atraso das votações no Congresso, afirmou: "Quanto mais tempo passar sem se votar o orçamento, menos dinheiro a gente vai gastar a cada ano. Já poderíamos estar gastando, aí, alguns milhões e não estamos porque o orçamento não foi aprovado."

Afirmou também que decidiu criar o Fundo Social de Habitação e assumiu o compromisso de acabar com as palafitas, pois as considera "o processo de maior degradação de moradia de um ser humano".

A crise não impediu que Lula mostrasse bom humor n o lançamento da segunda fase do Programa Farmácia Popular. A nova etapa é feita sob medida para a classe média. O governo bancará o preço de até 90% de uma lista de medicamentos para tratar hipertensão e diabetes.