Título: Sou um prisioneiro em casa, diz Palocci a amigo
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Nacional, p. A6

Abalado, ministro disse a Lula que pode ser obrigado a deixar governo para proteger a família; sua filha não tem saído nem mesmo para ir à escola

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse a amigos que as denúncias feitas pelo caseiro Francenildo Santos Costa causaram um terremoto em sua vida. "Eu me sinto um prisioneiro dentro de casa", afirmou Palocci, segundo relato de petistas que têm conversado com ele.

Há onze dias sem aparecer no Ministério da Fazenda, despachando no terceiro andar do Palácio do Planalto, Palocci já avisou Lula de que poderá ser obrigado a deixar o governo não só por causa do agravamento da crise, mas para preservar a integridade de sua família. Está emocionalmente abalado. Lula ainda acredita que é possível manter o ministro e pediu a ele que tenha calma.

O primeiro compromisso público de Palocci, depois das denúncias do caseiro, ocorrerá hoje. Em sua agenda está previsto um almoço com empresários e autoridades, em São Paulo, na posse do Conselho de Administração da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham). Aos amigos, ele garantiu que falará nesse fórum.

Companheiros de partido lhe perguntaram por que não convocava uma entrevista coletiva para rebater a denúncia de que freqüentava uma mansão no Lago Sul, alugada por lobistas da república de Ribeirão para fazer negócios e promover festas. "Eu não posso ficar dando entrevista a cada acusação", respondeu.

Nas conversas privadas, Palocci tem dito que não agüenta mais essa situação. Sua filha não tem ido nem mesmo à escola e ele não tem coragem de sair à rua. Despacha num gabinete próximo ao de Lula para evitar o assédio dos repórteres. Antes de ir para o trabalho, toda manhã, verifica se não há ninguém à espreita. No Planalto, entra e sai por uma garagem reservada a autoridades, local onde os jornalistas não têm acesso.

Desde que estourou o escândalo envolvendo a quebra ilegal do sigilo bancário de Nildo, o governo ressuscitou o gabinete de crise. Há reuniões diárias entre Palocci e ministros da coordenação política, algumas delas com Lula. Muitas vezes, Palocci fica calado.

Na tentativa de estancar a crise - considerada gravíssima pelo governo -, o presidente continua pedindo pressa na divulgação dos responsáveis pela violação da conta do caseiro, na Caixa Econômica Federal.

A Caixa já identificou dois funcionários que cometeram o delito, mas o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que é preciso cautela para evitar injustiças. O argumento é de que funcionários podem ter executado o serviço a mando de um chefe. "Quebraram o sigilo bancário do senhor Francenildo em segundos e agora querem semanas para encontrar um bode expiatório", provocou da tribuna o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Lula insistiu em que vai punir os culpados com demissão. Acha que, com um gesto firme, conseguirá amenizar a crise e segurar Palocci.