Título: Coaf, ligado à Fazenda, pediu investigação
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Nacional, p. A4

Devassa na conta do caseiro começou na sexta-feira

Na última sexta-feira, menos de 24 horas depois de o caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, dizer à CPI dos Bingos que Antonio Palocci era um assíduo freqüentador da alegre mansão da república de Ribeirão, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, entrou em ação.

Em ofício assinado por seu presidente Antônio Gustavo Rodrigues, pediu à Polícia Federal abertura de inquérito para apurar a origem do dinheiro que Nildo tinha em conta poupança na agência do Lago Sul da Caixa Econômica Federal.

O pedido cita a movimentação financeira da conta do caseiro entre outubro de 2005 e março de 2006. Diz que ela não representa "necessariamente atividades ilícitas", mas aponta "atipicidades". De acordo com a Coaf, o saldo da conta de Nildo era de R$ 1.016 em outubro, R$ 827 em novembro e de R$ 120 em dezembro. Entre janeiro e meados de março, a conta recebeu depósitos que totalizaram R$ 25 mil.

De onde veio soma tão alta? - quer saber o Coaf.

Em entrevista coletiva, o caseiro esclareceu na última sexta-feira que os R$ 25 mil foram depositados em sua conta por Eurípedes Soares, dono de linhas de ônibus no Piauí, a quem aponta como pai. O empresário confirmou os depósitos, embora evite admitir que é pai do caseiro.

A mãe de Nildo, Benta, que mora em Teresina, contou ao Estado que tinha 15 anos quando conheceu Eurípedes. Do relacionamento, nasceu Nildo. Em dezembro, Nildo esteve com Eurípedes. Queria ser reconhecido como filho dele.

Eurípedes ofereceu R$ 25 mil a Nildo para que ele o deixasse em paz. E assim foi.

O zelo demonstrado no caso de Nildo faltou ao Coaf quando R$ 55,8 milhões foram sacados em espécie por parlamentares e assessores deles da conta da agência de publicidade SMPB de Marcos Valério no Banco Rural, em Brasília. O Coaf recebeu do Banco Central as relações de cheques de Valério, apontado como o operador do mensalão, de julho de 2003 a maio de 2005. Identificou valores muito elevados e enorme freqüência de saques.

Quando estourou o escândalo, as autoridades garantiam que seria fácil o Coaf mapear a movimentação, pois a lei de combate à lavagem de dinheiro determina que as operações acima de R$ 100 mil sejam informadas pelo banco à Receita Federal. Não foi o que aconteceu. Até hoje o Coaf não repassou aos órgãos competentes os dados para ser investigados em inquérito.