Título: PF pede quebra de sigilo de caseiro, que acusa Lula de esconder 'o chefe'
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Nacional, p. A4

A pedido de órgão ligado ao Ministério da Fazenda, polícia solicita à Justiça quebra de sigilo de Nildo

O governo reagiu às revelações do caseiro Francenildo Santos Costa, o Nildo, promovendo uma devassa em sua vida e transformando o denunciante em investigado. Depois de ter sua conta bancária violada na Caixa Econômica Federal (CEF), Nildo foi informado ontem, ao chegar para depor na Polícia Federal, que já tinha sido pedida à Justiça a quebra de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico. A iniciativa, justificou a PF, foi tomada a pedido do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda.

A intenção não declarada é descobrir uma conspiração política por trás das acusações do caseiro ao ministro Antonio Palocci - ao qual, em última instância, o Coaf deve obrigação. O conselho solicitou a devassa na sexta-feira, um dia depois de o caseiro confirmar à CPI dos Bingos o que dissera antes ao Estado: Palocci freqüentava uma mansão de Brasília alugada por ex-assessores de Ribeirão Preto para partilhar dinheiro e promover festas. Palocci negara à mesma CPI que tenha colocado os pés alguma vez na mansão.

O Coaf alega ter considerado estranho e incompatível com o salário do caseiro o volume de dinheiro movimentado no começo do ano e acionou a polícia. Na representação nº 6.209, encaminhada à PF, o conselho trata Nildo como suspeito de crime financeiro, ao falar de suas movimentações financeiras: "Embora não sejam consideradas ilícitas, evidenciam situações de atipicidade que constituem, em tese, indícios de prática de crime de lavagem de dinheiro ou outro ilícito."

De acordo com fontes da própria PF, o objetivo é apurar com quem Nildo vem se relacionando e qual a origem dos R$ 25 mil movimentados em sua conta entre janeiro e março. Não se levou em conta o fato de que o caseiro já apresentou uma versão confirmada por sua mãe, a de que o dinheiro foi depositado por seu pai biológico, para não assumir a paternidade. Com o cruzamento dos telefonemas e dos dados bancários e fiscais, a polícia quer saber se Nildo foi instruído pela oposição para dar declarações capazes de desestabilizar o governo.

No depoimento à PF, o caseiro - que já abrira mão de seu sigilo bancário - sustentou a versão de que o dinheiro foi depositado por seu pai biológico e reafirmou que Palocci freqüentava a mansão. Após falar por quase quase quatro horas, saiu decepcionado com a descoberta de que estava sob investigação. Seu advogado, Wlício Chaveiro Nascimento, protestou: "Faz todo sentido. A mãe dele é lavadeira."

Nildo sugeriu que o governo deveria quebrar também seu sigilo eleitoral e revelou ter votado em 2002 no então candidato do PT, o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Indagado se votaria novamente no petista, respondeu que não. "Olha o troco que estou recebendo. Ele está escondendo o chefe", disse o caseiro, referindo-se a Palocci. Chefe, segundo disse ao Estado, era o tratamento exigido por Palocci nas visitas à mansão.

Além da pressão policial e fiscal, Nildo foi apertado pelos jornalistas. Um deles chegou a perguntar se o caseiro não se envergonhava de receber dinheiro do suposto pai biológico. Nildo encerrou a entrevista, entrou no carro do advogado e caiu no choro.