Título: Jordânia envia duro recado ao Hamas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2006, Internacional, p. A15

A Jordânia cancelou ontem a visita que o ministro de Relações Exteriores palestino, Mahmud Zahar, faria hoje ao país, depois de acusar ativistas do grupo islâmico Hamas de contrabandear armas para território jordaniano. Zahar é o principal líder do Hamas na Faixa de Gaza e também um dos mais importantes dirigentes do grupo. De acordo com o porta-voz do governo jordaniano, Nasser Judeh, a visita foi "adiada até segunda ordem" porque "mísseis, explosivos e armas automáticas foram apreendidas nos últimos dois dias, contrabandeados por militantes do Hamas".

O anúncio da Jordânia, país que tem relações diplomáticas com Israel e é também importante aliado da Autoridade Palestina, representa novo golpe para o governo do Hamas. Essa é a segunda vez em cinco dias que uma nação árabe vai contra o Hamas. Na sexta-feira, Zahar foi ao Cairo, mas o chanceler egípcio, Ahmed Aboul Gheit, disse estar "muito ocupado" para recebê-lo. O grupo, empossado no governo palestino há três semanas, enfrenta um boicote financeiro dos EUA, União Européia e outros países ocidentais por sua recusa em reconhecer a existência de Israel e abandonar a luta armada.

O assessor jordaniano não entrou em detalhes sobre o contrabando nem informou se houve prisões. Mas a agência oficial de notícias do país, Petra, destacou que os serviços de segurança jordanianos viram "membros do Hamas examinando vários alvos potenciais na capital, Amã, e outras cidades". A notícia é surpreendente porque o Hamas, surgido nos anos 80 como um grupo fundamentalista islâmico de resistência à ocupação israelense, nunca atacou alvos fora de Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza.

O governo israelense teme, porém, que extremistas palestinos consigam contrabandear explosivos e foguetes para a Cisjordânia, de onde poderiam atacar cidades de Israel. E tanto a Jordânia como o Egito enfrentam crescente oposição de organizações fundamentalistas islâmicas. Portanto, não lhes interessa o fortalecimento de grupos como o Hamas.

A recusa jordaniana em receber Zahar ocorre um dia depois de o grupo ter justificado como "autodefesa" o atentado suicida que matou na segunda-feira 9 israelenses e feriu 60 em Tel-Aviv. O ataque foi desfechado pela Jihad Islâmica, que se recusa a acatar uma trégua pactuada com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, em fevereiro de 2005. O Hamas tem acatado o cessar-fogo.

Ontem, Israel responsabilizou o Hamas pelo atentado em Tel-Aviv, mas resolveu não lançar uma operação militar de larga escala contra o grupo. Em vez disso, o gabinete israelense decidiu revogar o status de residentes de três deputados do Hamas que vivem em Jerusalém Oriental, a parte árabe da cidade, ocupada por Israel em 1967. O Exército israelense prendeu em Jenin, na Cisjordânia, o pai e um irmão do atacante suicida.

Autoridades israelenses disseram que uma reação comedida ajudaria a preservar a frente internacional contra o Hamas. No entanto, Israel continuará com sua política de assassinato de militantes extremistas. Na última semana, 16 palestinos foram mortos em ataques aéreos, incluindo 13 militantes e uma menina.