Título: Vale estuda compra da AngloGold
Autor: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2006, Economia & Negócios, p. B15

Interesse na terceira maior mineradora de ouro do mundo 'vai depender do preço', diz Roger Agnelli

O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, disse que a empresa vai estudar a compra da AngloGold, terceira maior mineradora de ouro do mundo, que está sendo vendida pelo grupo AngloAmerican. O executivo fez o anúncio ontem, no Pará, durante solenidade de expansão da planta da Alunorte, subsidiária da Vale para produção de alumínio. Mas fez questão de ressaltar que o interesse no negócio "vai depender do preço", pois a prioridade da Vale é o que classificou de "crescimento orgânico". "Vamos olhar, mas com uma visão de longo prazo", ponderou.

Com sede na África do Sul, a AngloGold é responsável por cerca de 10% da produção mundial de ouro. Opera no Brasil há seis anos e a sede sul-americana fica em Nova Lima (MG), de onde controla três das principais minas produtoras do País: Cuiabá e Córrego do Sítio (MG) e Serra Grande (GO).

Além do Brasil, a AngloGold opera na Argentina, e tem, nos dois países, produção total de 17 toneladas de ouro anuais (13,5 toneladas só no Brasil). Se concretizado, o negócio representará o retorno da Vale à mineração de ouro, segmento que abandonou em 2003, quando sua participação no mercado já era apenas marginal.

A mineradora brasileira chegou a ser a maior produtora de ouro da América Latina. Em 1998, produziu 18,08 toneladas, mais do que a produção atual da AngloGold na América do Sul. Hoje o setor de mineração do grupo, além do minério de ferro em pelotas, carro-chefe da produção, inclui níquel, cobre, manganês, potássio e caulim.

CHINA

A intervenção do governo chinês nas negociações sobre o preço do minério de ferro este ano pode inviabilizar futuras parcerias entre empresas locais e a Vale do Rio Doce. Roger Agnelli deixou claro que o episódio "acende uma luz amarela" e obriga a Vale a repensar a forma como vai tratar os parceiros chineses daqui para a frente.

Segundo ele, a China vem dando um "péssimo exemplo" ao tentar interferir nas atuais negociações de preço entre siderúrgicas e mineradoras. A interferência do governo pode afetar os andamentos do projeto de construção de uma refinaria de alumina no Pará em conjunto com a chinesa Chalco.

Agnelli informou que as conversas entre os dois grupos continuam. Mas fez questão de lembrar que a Vale está disposta a tocar o projeto com ou sem a participação dos chineses. "Esse é um investimento que cabe perfeitamente no nosso bolso". Em 2004, a Vale e a Chalco assinaram um acordo para investir numa nova refinaria de alumina no Brasil.

Com a expansão inaugurada ontem, a Alunorte salta do quarto para o primeiro lugar do mundo na produção de alumina. A capacidade de produção da empresa passa dos atuais 2,5 milhões para 4,4 milhões de toneladas de alumina por ano. A obra levou três anos para ser concluída e custou R$ 2 bilhões.